Artigo

Sobre a escrita da história: ou o trabalho de alguns historiadores no Brasil

O título um pouco longo pode sugerir uma série de prováveis assuntos a serem abordados nesse final de semana. Entre os tantos possíveis venho hoje apresentar um que faz parte do meu cotidiano enquanto estudante e profissional da história, a saber: a construção de determinados discursos sobre o passado brasileiro, em especial a colonização e independência do Brasil. De uma colonização feita por indolentes, a um processo de independência pautado nos interesses de poucas pessoas e conduzidas por seres instáveis e sem capacidade, muito já foi dito sobre nossa história.

Na maioria das vezes, porém, de forma equivocada. Centro-me hoje no processo de emancipação do Brasil. Processo longo e de idas e vindas. Em um período que vai da vinda da Família Real em 1808, até o reconhecimento da independência em 1825, transcorreram-se longos 17 anos, quase uma geração. Inúmeros debates, conversões, acordos, idéias, projetos, diálogos, discussões, acordos, desavenças, envolvendo pessoas dos dois lados do Atlântico e do Brasil. Uma batalha política, ideológica e military foi travada entre os dois reinos, o do Brasil e o de Portugal, possuindo ainda a interferência e peso da monarquia Bretanha.

Ora, um período tão longo, não pode ser entendido a partir de uma visão simplificadora dos fatos, ou mesmo estereotipada. No entanto, é isso que tem acontecido na maioria das vezes. Inicialmente, aconteceu o enaltecimento e mitificação da figura de D. Pedro I e seus mais próximos assessores. Ele foi posto como herói nacional (talvez tenha sido), enquanto seu pai era encarado como glutão e inoperante.

Herói da independência seu vulto ganharia maior projeção com a pintura do quadro “O grito do Ipiranga” de autoria do pintor do Segundo Reinado, Pedro Américo. Essa imagem foi cultivada durante décadas. A mudança viria com a proclamação da República e o crescimento dos estudos marxistas no Brasil. Nessas análises clássicas, muitos autores começaram a condenar o endeusamento do nosso primeiro imperador. O imperialism britânico passou a ser apontado como único motor efetivamente responsável pela separação do Brasil e Portugal. Independência jamais houve, estávamos pautados a sermos uma eterna colônia. O Brasil é apresentado como um pobre coitado cuja existência resumese a ser explorado e subserviente ao “capital especulativo e imperialista estrangeiro”.

Tal visão se ajudou a melhor entender o passado, apontado distorções na atuação de muitos “heróis” da independência, não ficou isenta de um extremismo, tal qual sua antecessora e, por sua vez, de uma grave miopia e mesmo, uma aguda cegueira.