Um tom certo para Calasans Neto
O livro “Calasans Neto” escrito por Marcos Navarro, e publicado pela Editora da Assembléia Legislativa da Bahia, faz parte da Coleção Gente da Bahia e é o 12º lançamento da série.
Marcos Navarro, baiano de Salvador, 44 anos, é jornalista formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e atua há 20 anos na área. Foi revisor, redator e editor do Correio da Bahia, e repórter e redator do Bahia Hoje. No período de 1997 a 2003, exerceu o cargo de subcoordenador de jornalismo da Secretaria de Comunicação Social da Prefeitura de Salvador. Atuou ainda na comunicação Empresarial da Regional Norte-Nordeste dos Serviços Compartilhados da Petrobras e em outras assessorias de imprensa. Atualmente, é editor de Últimas Notícias e redator da primeira página do Jornal A Tarde. Este é um pequeno perfil profissional de Navarro, sobreposto lá na “orelha” do seu livro.
Porém, o que de fato ressalta quando lemos “Calasans”, mais do que a bela trajetória profissional do autor, é a presença de um escritor atento às singularidades das pessoas (da alma das pessoas) e isto o transforma no Marcos: o contador de histórias! Marcos, portanto, conta-nos da vida e da arte de Calasans Neto, e mais do que simplesmente revelar uma sequência de fatos biográficos, Marcos apresenta-nos com maestria a essência peculiar e vibrante de um ser humano despedido de qualquer vaidade artística. Em verdade, lendo “Calasans” percebemos que estamos em ótima companhia, entre amigos e amigas, fazendo parte de um bate-papo simples, animado, efervescente, produtivo, pueril e genial! Marcos consegue nos contar as histórias de superação de Calasans – ele teve poliomielite quando criança e isto, óbvio, comprometeu a musculatura das pernas, que sobrecarregou a coluna e afetou um dos pulmões – sem cair nas pieguices melodramáticas.
Assim, Marcos, nos apresenta a magnífica arte daquele pequeno grande homem (Calasans tinha apenas um metro e quarenta e cinco centímetros de altura!) admirado por seus muitos amigos e amigas: Jorge (Amado), Zélia (Gatai), José (Saramago), Gabriel (Garcia Marquez), Neville (D’Almeida), Robert (De Niro), Vinícius (de Moraes), Glauber (Rocha), Walter (da Silveira), Nara (Leão), Dorival (Caymmi) entre muitos outros. A grande arte de Calasans, além da suas pinturas e xilogravuras, era de fato não levar a vida a sério: sua sensibilidade artística era tão genial quanto a sua capacidade de rir das adversidades.
E era tanto o seu desprendimento que sua esposa, d. Auta Rosa, declarou para Marcos: “Rapaz eu já ia me esquecendo de lhe contar… Calasans tinha um grande complexo! De superioridade (gargalhadas). Ele se achava bonito, elegante, irresistível. Tinha tanta autoconfiança que parecia ser maior do que realmente era”. É isso: Calasans foi um homem que veio colorir a vida, brincar com os amigos e ser feliz com d. Auta Rosa (“Foram quarenta anos, um mês, vinte seis dias e doze horas e meia de felicidade”. Com fez questão de salientar d. Auta). Marcos conseguiu reunir em “Calasans” aquele espírito aconchegante do antigo “Principado de Itapuã” e sua atmosfera doce, alegre e refrescante. E nos levou para dentro da casa de Calasans Neto e Auta Rosa (assim como eles levaram ou receberam aqueles muitos amigos e amigas) e nos fez sentar em volta deles e daquelas conversas animadas, como se nós leitores (as) estivéssemos lá, ouvindo e vivendo as “traquinagens” daqueles jovens sonhadores/ realizadores! Ao terminar a leitura de “Calasans” sobrevémnos as “memórias de alegria”, ou melhor, lemos que o mestre Calá está morrendo e em seguida que ele morreu num domingo do dia 30 de abril de 2006, mas, o sentimento que fica não é o de perda e sim o de vitória: Calasans venceu o Tempo inexorável através de sua arte inextinguível! Marcos, enfim, fez um belo trabalho: ampliou o círculo de amizades em volta de Calasans (certamente ele está muito feliz por isso). De minha parte sou grato a Marcos por me apresentar Calasans Neto (meu velho-novo amigo) e a Antonio Jorge K’Bula da Silva por ter me presenteado este livro e por ter me presenteado sua amizade.