Artigo

Três Poesias

Soneto da Insistência

Ser um poeta agora vale a pena?
Ó mundo, minhas antenas da raça
Para que servem? Uma veloz massa
Nos tempos modernos prefere nessa
Onda sepultar a relva curtindo
Essas vozes que rolam sem dar trégua.
Uma ardente viagem ao fundo do
Poço trepida nesse embalo de erva.
Irada ruge elétrica pantera,
Insana expele cantores de guerra,
Rosas enfermas: água, céu e terra.
Conquanto os ventos desprezem meu
canto,
Com seus mitos em meu pomar insisto
Para fazer do mundo sentimento.

Soneto de Todos Nós

Persisto entre virtudes e defeitos,
O caminho está nisso, jogo e drama,
Passos andando, andando como os ventos,
Claro, escuro, nave, ilha, ó meu poema.
Nesse vaivém da vida sinto dores,
Leveza apenas quando vejo as flores,
De tal modo o tempo passa adiante,
De novo o ontem é o hoje de repente.
Sortilégios estão dentro de mim,
Sempre lhes afirmo que a vida é falha,
Ouço-me num ponto onde tudo encalha.
E suas vozes, que fui sempre assim,
Odes, prantos, essa medonha malha,
Andante do começo para o fim.

Natal

Uma estrela afugenta
Da noite o medo
Que se tem das trevas.
O canto do galo
Que fere a aurora
Dessa vez é belo.
Num sorriso silencioso
A Virgem Maria sabe
Do amor de Deus no chão.
Da flauta dos pastores
Sai essa canção que comove.
Todos os anjos entoam
O esplendor deste amor,
Em torno do mundo
Abelhas de ouro zumbem.