Artigo

Insensatez

Após vinte anos de casada, Ana encontrava-se solteira novamente já que o marido havia insistido na separação conjugal. Passadas algumas semanas, lá estava ela se aventurando no mundo cibernético, batendo papo com inúmeras pessoas, entre elas aquele que viria a ser seu novo “namorado”. Saído do mundo virtual para o real, eis que surge o príncipe encantado, não sentado num cavalo branco, mas pilotando um Mitsubishi novinho.

Charmoso e experiente foi logo enchendo a pobre de ilusões, fazendo-a crer que era a mulher mais linda e maravilhosa deste mundo. Desde o início, foi francamente aconselhada por uma amiga: “Cuidado, vá devagar, pois você não sabe de quem se trata na realidade. Quem vê cara não vê coração”. Lógico que não adiantou, pois a empolgação era tanta que a observação soou ultrapassada, jurássica. Resumindo, em poucas semanas, Ana fez com o novo “namorado” o que sua amiga sequer ousaria supor que ela pudesse sexualmente fazer, e deixo a cargo da imaginação dos leitores as várias possibilidades.

Ana contava empolgada todas as suas proezas e façanhas (e que façanhas), acreditando que estava abafando e deixando o “namorado” louco por ela. Só não conseguia entender porque ele havia se distanciado um pouco depois do último encontro. Com a franqueza que lhe era peculiar, a amiga foi logo dizendo que tinha avisado, e que ele não conseguiria por menos de mil reais o que Ana lhe havia proporcionado de graça. O tempo mostrou que a amiga de Ana estava certa. O príncipe encantado logo resolveu salvar outras princesas em perigo, e bateu em retirada da vida de nossa protagonista.

O que mais me deixou entristecida com essa estória, foi perceber que algumas mulheres estão perdendo a noção do que é adequado à preservação de sua autoestima. No caso em questão, Ana (dona de casa e mulher de família), ao invés de buscar elaborar o luto pelo matrimônio desfeito, tentou provar a si mesma que era atraente e desejável, e fez isso da forma mais inadequada, igualando-se às meretrizes. Ficou pior do que estava, sentindo-se ludibriada em sua ingenuidade com frases adocicadas e envolventes, porém vazias de verdadeiro sentimento.

Ninguém se desfaz de vinte anos de convívio assim, num passe de mágica, sem sofrimento. A separação conjugal só é festejada quando o sentimento que havia entre os cônjuges não era amor. Caso contrário, vai doer por um bom tempo, quiçá por toda uma vida. Portanto, é sempre bom refletirmos se a separação é a melhor opção diante dos desentendimentos e divergências entre o casal.

Aos homens e mulheres, apenas uma observação. A dignidade de uma pessoa pode ser avaliada pelo respeito que a mesma possui por seus princípios morais e éticos. Aquele que se despoja de sua dignidade para agradar ou satisfazer, ainda que sexualmente, a quem quer que seja, desqualifica-se, sendo percebido apenas como um objeto desprovido de essência e sentimento. Em tais situações não se podem esperar relações afetivas, visto que envolvendo coisas somente existem relações comerciais. É bom refletirmos sobre isso toda vez que nos sentirmos tentados a nos despir de nossa dignidade.