Artigo

Por uma escola pública de qualidade

As discussões e os debates sobre a qualidade no ensino das escolas brasileiras, em particular aquelas que dispõem de um ensino público e gratuito, são um tema recorrente no Brasil. Desde o período colonial que o dilema de se possuir aqui nas paragens tropicais um bom ensino foi abordado por jesuítas, governadores, aristocratas, intelectuais e artistas.

Ao longo do Império esta discussão também motivou muitos e calorosos palavrórios. A prática, porém, permaneceu inócua. A fraca perspectiva de desenvolvimento do ensino no país foi um dos temas que impulsionou a aceitação do regime republicano no Brasil.

Com o advento da República o debate em torno de assunto tão complexo ganhou pela primeira vez ares de dilema nacional. A noção de que ficáramos por tempo demais deitado em berço esplêndido fez com que algumas tentativa s de mudanças fossem tentadas. As iniciativas, no entanto, continuaram tímidas e sem abrager a maioria da população do país.

O ingresso do Brasil no desenvolvimento capitalista a partir da década de trinta do século XX fez com que o dilema de nossa parca educação ganhasse novos tons e novos defensores. Anísio Teixeira, baiano de Caetité, foi um dos que se insurgiu contra o modo como a escola pública era encarada no Brasil.

Dessa forma um grupo de intelectuais, tendo à frente o educador baiano, fez uma frente ampla de defesa pela educação pública, gratuita e de qualidade. A diferença social e econômica do Brasil frente a outras nações industrializadas, e mesmo em comparação a países do próprio continente como Argentina e Uruguai, fez com que as iniciativas visando melhorar nossa qualidade de vida ganhassem aliados poderosos. Para eles somente com uma ampla mobilização social e a adequação dos gastos do Estado em educação poderiam fazer com que efetivamente atingíssemos um nível de desenvolvimento compatível com nossas riquezas naturais e com o de boa parte das nações “civilizadas” com as quais queríamos obter respeito e comparação.

Desse período em diante a educação vem sofrendo uma série de mudanças e produzindo avanços e também recuos. Os personagens mais importantes, envolvidos nesse processo, pais, educadores e alunos, sofreram profundas mutações. Pais exigentes e severos cederam lugares a pais mais compreensivos e, muitas vezes, coniventes; educadores rígidos e conservadores mudaram-se em graduados e especialistas com boa bagagem teórica, mas, às vezes desprovidos de meios e mecanismos para efetivarem uma bom e competente ensino; alunos obedientes e com poucos recursos deram lugar a educandos criativos e mais relaxados.

Este esquema apresentado acima é, sem nenhuma sombra de dúvida uma reflexão muito simplória e pequena sobre a complexidade que o ensino de qualidade no Brasil. A escola pública precisa avançar muito. Acredito, como professor do ensino público que o ponto mais essencial é o aprimoramento constante dos educadores, via cursos e capacitação e, principalmente, a melhor remuneração. De nada adiante debatermos e discutirmos sobre melhoria no ensino quando o salário do profissional desta área não lhe concede o necessário para seu estudo, lazer, sobrevivência e dignidade. De nada adianta querer maior dedicação e empenho quando somos levados a trabalhar em mais de três escolas para termos o mínimo de decência e podermos no final de semana sentarmos-nos com os amigos e tomarmos uma cerveja, ou outra coisa qualquer sem estar sempre a contar se a grana em nosso bolso vai dar para cobrir os gastos do lazer e ainda sobrar para o pão da família.

Um abraço.