Artigo

O começo de uma nova fase

Quando convidado disseram-me que o exercício do cargo seria apenas celebração de casamentos e porque nas dependências do Fórum não existia local determinado, meu antecessor utilizava salas de audiência após o expediente dos Juízes togados. Sentia-me desconfortável com nubentes e convidados acotovelando-se, além do pouco tempo disponível.

Para mim, o ato nupcial sempre representou um dos mais sérios de nossa vida, daí não concordar com aquele tipo de audiências, que destinadas a pessoas pobres parecia uma forma de discriminação. Quem também pensava assim era o querido e fraternal amigo o então Juiz Dr. Lourival de Jesus Ferreira, hoje Desembargador aposentado. Daí que planejamos mudar a coisa. Ao lado do Salão do Júri, descobri uma sala desocupada, em péssimo estado. Fizemos ofício à Ceplac e graças à compreensão do então Diretor Dr. Fernando Velo, o local foi reformado com pintura nova, instalação de dois possantes ventiladores, recuperação dos móveis e até compra de uma máquina de escrever. O material de expediente, meu saudoso compadre Alcides Bezerra assumiu compromisso de fornecer quando fosse necessário e até mandou colocar uma placa de acrílico indicativa na porta.

Bem instalada, a Justiça de Paz da Comarca de Itabuna passou ser exercitada com plenitude. Sendo espírito destas maltraçadas, rememorar algumas das suas acontecências interessantes, valerá a pena contar fato envolvendo o amigo Dr. Lourival de Jesus Ferreira, para que os queridos quasenenhum leitores possam aquilatar a grandeza da simplicidade dessa figura humana, que foi técnico em eletrônica, locutor de rádio e pelo esforço próprio advogado. Depois Juiz de Direito, por merecimento promovido a Desembargador com assento no Tribunal de Justiça da Bahia. Carreira gloriosa, exemplo de tenacidade, atualmente aposentado sem qualquer mácula a tirar-lhe o conquistado sono dos justos.

Na década de 70, além de bons amigos, irmãos maçons e companheiros rotarianos, ambos éramos radioamadores (ele PY6-LF e eu PY6-YM). Simples e disponível, jamais negava ajuda aos colegas quando surgiam problemas em nossos “chaks”. Ele Juiz de Direito da Comarca e Diretor do Fórum, eu funcionário da Ceplac e humilde Juiz de Paz, certo dia precisei do seu socorro técnico para instalação de uma “antena 20 metros” em minha residência na Rua Miguel Calmon 345, no que fui prontamente atendido. Era uma tarde de sábado. Simplesmente vestindo bermuda e sem camisa, subiu ao telhado, pondo-se a “espetar” a tal antena.

No prédio vizinho, alguns operários trabalhavam para reformar o restaurante de um filho do velho Jacob Bitar. Vendo aquele “rapazinho” subindo e descendo escada, puxando e amarrando fios, o mestre da obra gritou de lá: “ô rapaz, quando acabar aí quer ganhar uma prata ajudando carregar entulhos na minha camionete?

.Doutor Lourival, dentro da sua imensa simplicidade e percebendo que o homem não o estava reconhecendo, sorriu e apenas respondeu: “Tá certo patrão. Depois conversamos…

Claro que vendo isso, saí correndo e fui dizer ao Mestre que “aquele rapaz” era o Juiz Dr. Lourival Ferreira. O cara em menos de um minuto despachou os operários e sumiu como por encanto…