Artigo

Apontamentos sobre a identidade e os povos indígenas na Nova República

A historiografia brasileira sempre foi muito pródiga em ignorar ou mesmo esquecer os povos indígenas e sua atuação na construção da sociedade brasileira. Contatos amistosos no início do século XVI, guerras, doenças e mortes são algumas das temáticas abordadas por boa parte dos livros, em especial aqueles dedicados ao ensino Fundamental e Médio. Os índios surgem no início da colonização e desaparecem logo depois.

A história das sociedades indígenas que aqui habitavam é sempre vista de modo muito superficial. Além disso, eles somente aparecem no período anteriormente mencionado, do século XVII em diante saem de cena. Na maioria dos trabalhos o indígena é sempre visto como reagindo àquilo que portugueses e outros povos faziam. Faz necessário mudar tal visão, pois é preciso entender “que os índios agiam e não reagiam”.

Dessa forma poderemos compreender os povos indígenas como sujeitos históricos e não mais como coadjuvantes na história do Brasil. Dessa maneira pretende-se aqui, dentro das limitações do texto apresentar algumas considerações sobre a história indígena recente sua busca por cidadania e direitos na República brasileira pós-ditadura militar. Afinal, é preciso perceber a história indígena sobre uma nova abordagem em que não lhe seja negado seus direitos e sua interação com o meio (MONTEIRO, 2008).

Os grupos humanos, em sua trajetória histórica, em todos os tempos, espaço e cultura, estão a interagir com outros grupos, criando práticas e representações das mais diversas. Identidades e culturas são continuamente ressignificadas. Os contatos fazem que novos símbolos e valores apareçam, mudando constantemente a maneira como se percebe o mundo.

As sociedades indígenas tem, no contato com outros povos, construído novos mecanismos para captar e compreender o seu meio social e natural. Elas são plenas em história e passado. Ainda assim foi muito comum vê-los como pessoas destituídas desses dois itens. Já no século XIX Vanhargen via os indígenas como seres desprovidos de história. Para ele só havia para os índios etnografia. Não tendo passado não teriam também futuro. Ora o movimento indígenas, sua luta, reivindicações e tudo aquilo que se construiu nesses quinhentos anos de história brasileira servem para demonstrar o quão enganado se encontrava o ilustre sábio oitocentista.

Na capacidade de articulação e redescoberta se insere a construção e reconstrução das identidades e da história indígena. Em nenhum momento de sua história esses povos perderam sua capacidade de se articular e de lutar. Como afirma Hill citado por Monteiro (2008), “os grupos sociais humanos, mesmo reduzidos à escravidão e as piores condições, são capazes de reconstruir significados, fortalecendo identidades culturais.

As identidades de um grupo fazemse pelo contato e vivência com outros povos. Assim como só se é humano porque se vive em sociedade, com seus valores e cultura, os povos indígenas são plenos de significados e mudanças culturais. Estar isolado e sem comunicação com outros grupos foi um elemento que jamais aconteceu (COHN, 2009).

Pensar a cultura assim nos permite compreendê-la de forma dinâmica e adaptável. Ela se estabelece enquanto uma região de fronteira, em que diversos contingentes culturais dão forma e sentido aos símbolos e elementos que dão a cada ser humano um referencial social. A identidade tem que ser compreendida como um item a partir do qual a pessoa e o grupo se reconhecem e se distinguem mutuamente.