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A Morte De Sai Baba e o Fim do Mito da Espiritualidade

Morreu Sai Baba, vitimado por problemas cardio-respiratórios. Era o último guru vivo. Sua morte simboliza o fim de uma era. O fim de um dos mitos mais fortes: o mito da espiritualidade. Crescemos ouvindo falar de indivíduos “evoluídos”, capazes de contactar verdades “invisíveis” e trazê- las ao nosso mundo. Ordens místicas – a Rosacruz, a Martinista, a Golden Down, a Teosófica, dentre outras se multiplicaram. À parte isso, uma série de indus foram morar na América, atraindo como adeptos artistas, ativistas e uma série de “buscadores”.

Surgiram Ouspensky, Gurdjieff, Helena Blavatsky, Carlos Castaneda, Vivekanada, Anne Besant, Rajneesh etc. De uma hora para outra, todas as explicações estavam dadas. O homem era a imagem e semelhança do criador, e teria que evoluir, através de muitas vidas, até atingir a consciência suprema, o nirvana.

Rituais foram elaborados, iniciações, livros e mais livros, escolas secretas. Surgiu uma casta de “iluminados”. Um vasto rol de discípulos consubstanciou a figura do “mestre”. Até meados da década de 1980 tal ilusão dominou muitos círculos, inclusive meios intelectuais. Surgiram os ufólogos, afirmando o ano 2000 como referência para os discos voadores baixarem. Depois, vieram os “intérpretes” da mística egípcia, inca e maia. Os mais extremados falando sobre fim do mundo, nova era, arrebatamentos.

Recentemente, alguns se apropriaram de teorias científicas para sofismar. Tomaram a Física Quântica, que é matemática pura, e a utilizaram como explicação científica para uma série de superstições antigas. Uma maluquice completa, cosmológica e ontológica. O ser humano tem muita dificuldade em se aceitar finito e, à medida que avança na técnica, tenta elaborar conceitos que justifiquem o seu tempo/espaço.

O mais certo é que a vida seja finita e, como as baratas ou os camundongos, morramos para nunca mais. As pessoas mais simples sequer concebem tal possibilidade. Elas rezam a Jesus e têm certeza de em breve estar ao lado de Deus. Porém, uma série de outros indivíduos, para quem a explicação religiosa é por demais piegas, aos poucos, criou uma elite religiosa, são os espiritualistas, também chamados de místicos ou esoteristas. Elegeram “mestres” excêntricos para seguir, para conseguir dormir em paz.

É claro que as investigações do cérebro humano desvendarão tudo que está por trás dessa mistificação. Certamente tais desequilíbrios têm por fonte os hormônios, as estruturas bioquímicas, o neocórtex, a amígdala, o núcleo caudal etc. Somos um bicho que simboliza. Recentemente, artistas e outros segmentos pouco científicos vêm fomentado centros espirituais novos, como a União do Vegetal, o Santo Daime, o Vale do Amanhecer, dentre tantos. De igual forma, multiplicam- se “disciplinas” como eneagrama, tarô, runas, astrologia, e toda uma gama de mentiras doces. Parece ser agradável ao ser humano manter até a velhice os amiguinhos invisíveis. A morte de Sai Baba simboliza o epílogo de um capítulo da nossa contemporaneidade, a morte de uma série de crendices sofisticadas. Sem a ciência, o homem retorna a um tempo de trevas e passa a necessitar de gurus, pois em terra de cegos alguns podem ser reis. Nossa juventude precisa aprender a pensar, a pesquisar, a criar métodos racionais de investigação.

Crianças deveriam ser proibidas de frequentar religiões ou escolas espiritualistas. Para que se construa um ser humano forte, realista, capaz de viver e morrer sem fantasias. Afinal, só existem gurus porque existem fanáticos, pessoas que não querem usar o próprio poder mental e preferem seguir as ilusões. Sai Baba se vai, e com ele uma era inteira. Uma préhistórica da gnosiologia, uma mentira que adocicou os sonhos de muitos ingênuos. Somos mortais.