Artigo

Macunaíma e a reforma

O tempo passa e a sociedade dita organizada continua dispersa. Não respondo por esta expressão: há um arquipélago de cidadãos lúcidos, sensatos, politizados, o resto é um continente de indivíduos alheios e ignorantes, a espera de benesses ou prontos a requebrar aos primeiros acordes do tchan dos governadores. Porque tarda o movimento popular acerca da reforma política? Enquanto não surgem propostas abonadas por milhares, milhões de assinaturas, como foi o caso da Ficha Limpa, transformados sobre pressão em lei (ainda falta a douta palavra do Supremo Tribunal Federal), os legisladores alinham mudanças eleitorais que lhes fortalecem a representação.

O presidente da Ordem dos advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, reconheceu: “eu só acredito em reforma política se for a partir da sociedade”. Claro, deputado e senador não votam contra regalias que deles fazem casta quase de direito divino. A OAB ajuizou ação de inconstitucionalidade nos caso das aposentadorias de ex-governadores.

O que espera apara entrar de sola na reforma eleitoral? Se fizesse plebiscito no arquipélago Dos eleitores esclarecidos, donos de sua opinião e nariz, todos responderiam pela redução drástica da representatividade legislativa: bastaria dois deputados, dos senadores por unidade federativa. Os deputados estaduais fariam jus ao “pro labore” pago por sessão e as câmaras municipais seriam trocadas por um conselho de cidadãos notoriamente sábios, prestadores de serviço público relevantes.

Os regimentos internos seriam substituídos por um manual de derrubando os supersalários, as imunidades e preço os privilégios, o nepotismo, o caixa dois, os ministérios excessivos, os mensalões, dólar na cueca, o pluripartidarismo e outras misérias, sobrariam muitos recursos, e muitos, para investimento em favor da saúde, da educação, da segurança da tecnologia. “Acorde”, sopra Macunaíma, símbolo nacional. “A Utopia morreu com Thomas More”. Tem razão, o moleque. Aprendeu a dançar conforme a música. Aparentava a mais incorruptível anuência, do tipo deixa rolar para ver como é que fica.