Artigo

Educação e seus problemas

Ao longo de várias décadas no século passado, o ensino no Brasil passou por profundas mudanças: de escolas para poucos, para instituições abarrotadas de gente; de uma população matriculada em torno de 30 a 50% para quase 100%; de professores mal formados para profissionais com formação em nível superior; de colégios mal estruturados para prédios com computador, internet, merenda, quadros brancos, livros para todos os alunos; outros fatores poderiam ser aqui apontados…

Claro está que estes fatores se encontram em lugares em que o dinheiro público está sendo bem empregado. Existem ainda muitos desvios, gente burra, estúpida e desonesta ao extremo. Gente que merecia prisão perpétua.

Analiso aqui as escolas em que a estrutura física, humana e administrativa estão dentro de um padrão pedagógico e de gestão satisfatório. Na reportagem do Jornal Nacional, após apresentar escolas mal equipadas, que infelizmente existem ainda em quantidade suficiente para levar-nos à indignação, o repórter entrevistava diretores e alunos e apontava o cerne da evasão e repetência dos alunos: o PROFESSOR. Eis aí o mal encarnado, o personagem vil, o agente da destruição e do pecado, o infiel, o inútil, o imbecil, o incapaz, etc., etc., etc.

Durante anos, […] desde minha formação inicial, que eu seria o culpado por todas as mazelas da educação. Para que isso não acontecesse, seria necessário que as aulas fossem dinâmicas e ágeis. Era preciso trazer filmes, músicas, desenhos, documentos, não atentar apenas para o livro didático, requebrar, rebolar, contar piadas, dramatizar, chorar, sorrir. Isso tudo me foi passado pelos meus professores. Isso tudo li e tenho lido em artigos e documentos oficiais ou extra-oficiais, ouço também em palestras. Tudo isso vi, tudo isso já fiz.

Sempre me critiquei por minhas aulas. Sempre vi que elas poderiam ser melhores do que eram. Por mais que os alunos dissessem que gostavam, sempre percebi que poderia fazer melhor. Assim venho tentando. Assim vejo também meus colegas a fazer. Apesar das dificuldades todos vêm procurando fazer melhor seu trabalho, em a busca por uma educação de qualidade. Porém tal discussão acaba por nos desviar de um dado que tem sido relegado, que ninguém quer falar, por ser mais simples acusar o professor e a escola: “o nosso aluno não quer estudar”!

Apresento o que tem sido um erro evitado por todos. Cobra-se da escola, dos professores (sempre), dos pais. Não se cobra do sujeito que mais deveria estar interessado: os alunos. Vejo meninos e meninas que somente brincam, gritam, xingam uns aos outros, desrespeitam os professores, nos ameaçam, falam em drogas (às vezes até vendem), fazem gestos obscenos, ouvem música no volume mais alto dentro e fora das salas, etc., etc., etc.

Nos últimos anos o governo federal implantou o Bolsa Família, excelente programa para redistribuição de renda. Para recebê-lo as famílias devem matricular seus filhos e cuidar para que freqüentem a escola. Só! Sem nenhuma contrapartida do aluno, apenas ir à escola. Não há preocupação nenhuma em que os alunos estudem, que passem de ano, tirem boas notas (Sim! O quantitativo também é importante na educação), que respeitem os colegas e seus professores. Nada é cobrado. Temos que criar uma nova consciência.

Estudar não deve ser algo que só possa acontecer por prazer. Não, estudo requer concentração, dedicação, esforço. É preciso abandonar alguns prazeres, horas de diversão, até um pouco do sono. Estudar exige empenho. Nisso não vejo ninguém falar aos alunos. Somente os professores, mas aí, é por que “não sabemos ensinar”. […] Os professores vivem hoje acuados, com medo. Têm receio do que os alunos podem fazer, se vierem a não gostar de algo que os professores dizem ou fazem. Dos alunos nada se cobra […] Por enquanto somente se ouve: o professor é o culpado! E, naturalmente, aquela máxima surrada: As aulas são chatas.

Entendo que os professores tem sua parcela de culpa. Querer, no entanto, que somente a eles sejam aplicados os maiores encargos pelos problemas da educação é algo que não posso aceitar. É preciso chamar o aluno para sua carga de responsabilidade. Em um mundo em que valores mudam com rapidez, necessitamos não abandonar a formação responsável e com deveres.

Aos alunos deve-se boas aulas e uma excelente estrutura. Respeito e compromisso com as atividades, estudo e empenho, ter boas notas, devem ser deles cobrados. […]

[…] Conheço pessoas fantásticas na educação. Gente como Cláudio Zumaêta, cujas aulas de história deixam meu filho mais novo encantado e com vontade de aprender sempre mais. Conheço também outros colegas que cotidianamente trazem idéias e sugestões que mudaram a vida de muitos alunos.

Até hoje exulto e orgulho-me de vários alunos que decidiram fazer história por conta de minhas aulas. Se o professor é o responsável pela falta de estudo dos alunos, se ele somente ministra aulas chatas, então é muito simples: basta retirá-lo da sala de aula, que a educação vai caminhar bem melhor.