Artigo

Sobre a distância

Começo com o historiador britânico Eric Hobsbawm: “[…] a primeira coisa a observar sobre o mundo na década de 1780 é que ele era ao mesmo tempo menor e muito maior que o nosso”. Essa frase foi retirada do livro A era das revoluções nele esse brilhante pensador traça o caminho percorrido pelo mundo Ocidental a partir do século XVIII e dos traços definidos nesse século que determinaram os passos da sociedade mundial a partir de então.

Com a Revolução Industrial, Americana e Francesa a sociedade começou a fazer uso dos termos: ideologia, industrial, classe média, operariado, socialismo, capitalismo, presidente. Essas três revoluções, duas na Europa e uma na América do Norte traçaram novos caminhos para a humanidade.

Um dos elementos que mais sofreu alterações foi o tempo, ou melhor dizendo, o conceito de tempo e a impressão que temos dele.

O tempo anterior ao século XVIII era o das estações do ano, do plantio e colheita, das festividades dos santos e do calendário litúrgico. Tempo compassado, bem definido; tempo único, linear, com raras mudanças. Tempo lento, de longa duração.

Esse tempo, longo e lento, sofreu bruscas alterações com a ascensão do capitalismo e das mudanças na mentalidade e no processo de produção das fábricas. A invenção do relógio demarca de forma salutary tal fato. Com ele passou a ser possível “contar” o tempo em horas, determinando os momentos de entrada e saída na fábrica, indicando os períodos para descanso e almoço, definido o que fazer e como.

A sociedade que surge no século XIX é filha direta dessas três revoluções. Pressa, pouco “tempo” para fazer as coisas, ritmo desenfreado de nossas atividades, tem nos colocado fardos cada vez mais pesados. As mudanças tornaramse frenéticas, de modo que muitas mudanças em nosso cotidiano passam despercebidas: vale aqui lembrar como as festas juninas cada vez mais se descaracterizam: axé, sertanejo, pop, brega, arrocha, vários são os gêneros tocados, de forró poucos falam.

Pensar o tempo, as mudanças advindas com as Revoluções do século XVIII e as transformações que a sociedade sofreu nesses dois séculos, eis ai um dos assuntos mais saborosos para pensadores, intelectuais, historiadores e professores.