Artigo

O Norte enganador

Nosso querido Brasil pode ser a nona ou décima economia do mundo, sei lá, destacar-se do G20, emprestar dinheiro a países e instituições falidos, vender gasolina subsidiada aos vizinhos e patronos ditadores africanos. Ainda assim nos parecerá esbanjador e exibicionista do que propriamente do que rico. É uma vergonha, como diria Bóris Casoy, que brasileiros continuem detidos em aeroportos da União Européia, que os devolvem após um ritual de constrangimentos, com receio que eles tomem as parcas oportunidades dos nacionais. Viajantes brasileiros supostamente em busca de trabalho são ao mais interceptados.

A fronteira México-EUA, tão vigiada quanto o Irã ou a Coréia do Norte,banha-se de sangue brazuca. Duas semanas atrás um rapaz mineiro de Ferruginha, distrito de Conselheiro Pena, no Vale do Rio Doce, morreu o deserto americano, depois de pagar aos coyotes pequena fortuna pela entrada ilegal no Norte. Desta vez, a temida Border Patrol está inocente: o “undocumented imigrant” (ilgeal) morreu desidratado. Um companheiro de tragédia enterrou-o. Chamava-se Diego Armando Guimarães. Com estes prenomes, imaginouse tão rico e famoso quanto Maradona.

E arriscou a vida atraído pelo American Dream, que se transformou em balela. Na balança dos investidores, o risco dos EUA é maior, hoje, que o do Brasil. A corrente migratória se inverte: americanos correm para cá ou aprendem ou aprendem português às pressas. Já sabem que Buenos Aires não é a nossa capital. O Leste mineiro é o maior fornecedor local de vítimas aos coyotes mexicanos e aos policiais americanos da fronteira.

Pouco se faz para conter esse fluxo que oculta um comércio criminoso de vidas humanas. No entanto a tragédia vem de longe, data de pelos menos cem anos. O grande escritor Ruan Rulfo, orgulho do México, registtra em El IIano em IIamas este dialogo:
“- Vou para longe, pai, por isso quis te avisar:
_ E para onde vais, se me permite?
– Vou para o Norte”.
Se enriquecer de fato, o Brasil precisa impedir que a agulha magnética dos anseios nacionais aponte sempre o Norte
– o enganoso Norte.