Artigo

Mata Atlântica pede socorro…

Recentemente escrevi um artigo (Cacau e Meio Ambiente: há compatibilidade possível?) com o propósito de trazer à tona uma questão que, creio, seja muito importante frente às novas dinâmicas da lavoura cacaueira. Para minha grata surpresa recebi, por e-mail, um trabalho de pesquisa de José Rezende Mendonça (Mata Atlântica e o Cacau: verdades e mentiras/Um relato ambiental), de 1998.

Tentarei expor, mais à frente, os aspectos relevantes desse trabalho, considerando se os limites do meu espaço, claro. O relato de Rezende foi dividido em três fases. Leia com atenção. Vale à pena.

Primeira fase: O desmatamento pelo enriquecimento sem Lei. Naquela época (dos desbravadores), informa-nos Rezende, apesar da Mata possuir uma densidade altíssima que chegava até 988 árvores/ha, conforme um levantamento recente, feito em mata virgem, na região de Serra Grande, município de Uruçuca, por pesquisadores do Setor de Botânica do Cepec, utilizaremos neste estudo uma média de 270 árvores/ha, por se tratar apenas de plantas com características adequadas para o sombreamento de cacaueiros. Deste modo, os desbravadores aqui chegando à busca de tão cobiçadas terras férteis, para o plantio do cacau, começaram a praticar o primeiro desmatamento. Por entenderem que o cacaueiro era uma planta exigente em sombreamento, não partiram para a derruba total da Mata e sim para o raleamento de árvores para melhor formar suas roças. O que mais impressiona nesta fase, é que, segundo dados levantados em 1972, pela Ceplac, já constatava que a média de 270, baixara para 76 árvores/ha, o que representa um raleamento de 72% das árvores que formavam um manto contínuo de Mata Atlântica.

Segunda fase: O desmatamento oficial e financiado (1968), conforme Rezende a orientação da Ceplac na época era a seguinte: “É importante assinalar, entretanto, que a exposição direta da luz solar não é prejudicial ao cacaueiro…

Este conceito nos obriga a reconsiderar o problema do sombreamento de modo diferente ao tradicionalmente adotado pelos agricultores, que estabeleceram suas plantações com excesso de sombreamento, por considerarem o cacaueiro como planta típica de sombra… A experiência tem demonstrado ser necessário reduzir a densidade de sombreamento, eliminando-se entre 50 a 70 %, das árvores de sombra”. Assim, ainda segundo Rezende, obedecendo a critérios estimativos em dados levantados oficialmente, podemos afirmar que nestas duas fases de agressão a Mata Atlântica, foram eliminadas nada menos que 89 milhões e 400 mil árvores nos 600 mil hectares de cacau, o que perfaz um volume de 134.994.000m3, considerando-se a altura de 10m, a circunferência de 1,39m e o volume de 1,51m3, médias destas árvores, conforme levantamento da Ceplac. Em termos comparativos, isto seria o suficiente para “assoalhar” 583,1 mil campos de futebol do tamanho do Maracanã ou os municípios de Ilhéus, Itabuna, Jussari, Uruçuca, Una, Arataca, Itacaré e Itapé com tábuas de (400cm x 30cm x 2,5cm). Terceira fase: O desmatamento pela sobrevivência (1992). Nesta fase, segundo o relatório de Rezende, pouco se sabe em termos quantitativos sobre o desmatamento ocorrido, desde que oficialmente foi encontrado o primeiro foco da “vassoura-de-bruxa”. Em determinados casos sabe-se que na região de Camacan, ou outro município isoladamente estariam praticando o desmatamento em nome da sobrevivência, sem que haja dados oficiais desta destruição. O que se sabe, é que mais uma vez a Mata Atlântica que protegia os cacaueiros e consequentemente os solos e os rios desta Região, está cada vez mais condenada a lembranças de meras árvores isoladas na imensidão dos 600 mil hectares de cacau, se é que ainda existe toda essa área. Tais informações já foram prestadas através de relatório em 1993, ao setor de Recursos Ambientais da Ceplac.

Isso tudo e muito mais constam no relatório de Rezende. Obrigado, meu amigo, por sua colaboração ao debate. Não podemos e nem devemos ficar de braços cruzados!