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Ensino de Língua Portuguesa: Uso e reflexão

As concepções teóricas subjacentes aos PCN’s (2001) privilegiam a dimensão interacional e discursiva da língua e definem o domínio da língua como uma das condições para a plena participação do indivíduo em seu meio social. Além disso, estabelecem que os conteúdos de língua portuguesa devem se articular em dois eixos: o do uso da língua oral e escrita e o da reflexão acerca desses usos.

É também nesse sentido que Antunes (2003) aponta novos caminhos teóricometodológicos em seu livro Aula de Português: encontro e interação. A autora critica a escola que nem sequer alfabetiza ou que, alfabetizando, não forma leitores nem pessoas capazes de se expressarem por escrito, coerente, relevantemente, para, assumindo a palavra, serem autores de uma nova ordem das coisas.

De modo precípuo, em se tratando do ensino da escrita, normalmente se dá de forma artificial e inexpressiva, realizada em “exercícios” de criar listas de palavras soltas ou ainda de formar frases, desvinculadas de qualquer contexto comunicativo. São, portanto, vazias do sentido, destituídas da unidade e das intenções com que as pessoas dizem as coisas que têm a dizer. Torna-se, dessa maneira, uma escrita sem função, destituída de qualquer valor interacional, sem autoria e sem recepção (apenas para exercitar). Uma prática tradicional de uma escrita improvisada, mecânica, sem planejamento e sem revisão e que ignora a interferência do sujeito aprendiz, na construção e testagem de hipóteses da representação gráfica da língua.

Quanto ao ensino de leitura, dá-se do mesmo modo. Desvinculado de sua função social, é centrado nas habilidades mecânicas de decodificação da escrita, sem dirigir para a dimensão da interação verbal. Torna-se, assim, uma atividade desinteressante, puramente escolar, sem gosto, sem prazer, convertida em momento de treino e avaliação. Dessa forma, a interpretação se limita a recuperar os elementos literais e explícitos presentes na superfície do texto, deixando de lado os elementos de fato relevantes para sua compreensão global.

Retomando, pois, o que propõem os PCN’s e as ideias difundidas por Antunes (2003), cabe ao professor de português uma postura crítica e criativa, envolvida com o processo de capacitar o cidadão brasileiro para o exercício fluente, adequado e relevante da linguagem verbal, oral e escrita, bem como da interpretação oral e escrita. Logo, o professor deixa de ser apenas o “transmissor do conhecimento”, mais precisamente de “conteúdos”, e passa a ser alguém que, com os alunos, pesquisa, observa, levanta hipóteses, analisa, reflete, descobre, aprende, reaprende. Centra-se na língua enquanto atuação social, atividade e interação verbal de dois ou mais interlocutores, vinculada às circunstâncias concretas e diversificadas de sua atualização.