Artigo

A infância perdida em prosopoema

A sombra inerme da noite foi se apoderando entre horas vazias, com vontade de ser carne e chão. Abandonando as rédeas: se fosse eternamente sonhos e as fantasias não se findassem, morressem o imaginário sem sentido, fértil, sem paradigmas. A afirmação de o imponderável amadurecer. Sem deixar sucumbir à parte lúdica & infantil. Torpor. Plantação de amor e felicidade.

Hoje sem corredeiras e carrinhos de rolimã, sem a própria alma. Morrendo um pouco a cada gota, em cada pensamento racional maduro. O sorriso perdido na memória, mesmo seguindo a jornada difusa, vendo oásis em rochas inférteis e a paranóica existência em noite que parece um manto sagrado duma santa encobrindo a multidão, pensando na divindade do ato, articulando suas interjeições.

Amostra apática diante do fim. Colóquios e prestações inúteis e morre a criança levada ao último cais, sem tomar banho de chuva, sem sentir o cheiro da terra molhada, sem semeadura. Pensando ainda que faz parte do real melindroso das desconfianças. Esquecido nas estantes de souvenires: a reformulação teórica de outras tantas teorias, enquanto não vem a liberdade pinchada num muro mofado, na linguagem do jogo que a mente imita.

Todas as partes são instants fragmentados de uma jornada feita aos pedaços, repugnantes, pedaços retorcidos de pizzas, sem história se tornando lenda ou virando mito nas nuvens das linhas. Rasgando os pulsos e bebendo o sangue, suicidando desejos e tremores, a dor que purga o peito, transformando um ninho de afeto na verdadeira metamorfose espiritual, entre combustões de sentidos & cores que alucinam auras desavisadas.

Queria ler lilases dos deuses. A tradução das idéias imortais se tornando loucura mosaica, apedrejada e cimentada nos sentimentos. O pular do trampolim de si mesmo, jamais conseguido no materializar da escrita – como sempre se tenta – por isso a certeza é uma frustração e o crescimento cada vez que tentasse e mais, mais e mais montagem de tijolos secos e enojados, construções, nas páginas em branco que se encontram ao vento.

E hoje se pergunta: onde se anda, perdido entre centenas…? Misturado com ritmo e bastante melancolia? Vai seguindo a rota por alguém traçada! Tentando dar forma a uma existência pobre, a uma riso torpe, a um tempo medonho. Assim, imóvel se locomove na partitura da memória, curtindo cada momento poético de beleza singular: uma lágrima que escorre pelos caminhos sensíveis d’alma extasiada, um fragmento que se solta do iceberg e se encontra no lado obscuro do outro, a árvore que saboreia o sal da terra e fornece o fruto doce, uma lua amiga e amante no meio de turbilhões paranóicos do self, as estrelas soltas e perdidas no espaço, iluminadas com o refestelar de luzes espectrais, o caminhar lento e profundo do jovem senil de carinhos vívidos.

O fim do começo existencial, nascimento do eterno final; a conversa literária com mentes sobejas e as descobertas sinfônicas das ficções. As ladeiras da jornada em conquistas do existir, o trabalho sacrificante, do inefável esfacelamento.