Artigo

Paixão pela OPINIÃO história!

O que é história? O que é ser historiador? O historiador produz história? Afinal, qual o papel do historiador na história? As questões são amplas e as respostas, se existirem, devem ser ainda mais amplas… Que fazer, então?

Bem, há teorias para todos os gostos e ideologias que tentam responder aquelas indagações. O Positivismo, por exemplo,defende o método formulado por Auguste Comte, onde a História é determinada através de documentos originais que por si só a definem. Já a Escola dos Annales criada por Marc Bloch e Lucien Febvre enxergam a História como problema, portanto, passível de ser analisada, discutida e modificada de acordo com as circunstâncias. Bloch afirma: “a história é a ciência dos homens no tempo”.

Essa relação entre o homem e o tempo evidencia que o homem é um ser transitório e sujeito a transformações. O tempo, no entanto, passa independentemente de nossa existência. Porém, de certa forma ou mesmo completamente é o nosso existir que determina a temporalidade, pois, é a nossa consciência que “visualiza” o passar do tempo. Isso nos conduz à individualidade, isto é, ao papel, a atuação e a participação de cada homem no processo histórico.

Cada homem atua, no seu mundo, do seu modo. As histórias de vida são as histórias que determinam a “construção” da História. A história dos homens, deste modo, é a própria História. As relações constituídas no espaço e no tempo se sucedem; e o modo de ser e viver de cada um envolve-se com os modos de ser e viver de todos. Isto é História! Assim, o modo de cada um contar sua história de vida nos leva a entender suas emoções, impressões, percepções e nos faz compreender também seus interesses. Cada indivíduo percorre caminhos diferentes, de modos diferentes. A História, por conseguinte, importa-se em entender as interseções simultâneas do modo de ser e viver dos homens ao longo do tempo.

Marc Bloch outra vez nos ensina: “O bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está sua caça”. Assim, o historiador é um observador dos homens e de si mesmo; e ao mesmo tempo é um observador dos momentos e das conjunturas nas quais as interseções aconteceram. O historiador é um crítico das diversidades individuais e coletivas.

Outro francês, Marc Ferro, da terceira geração da Escola dos Annales, fez um alerta sobre as limitações impostas aos historiadores profissionais, tecendo considerações importantíssimas sobre aspectos da produção do saber histórico em nossa atual condição “pós-moderna”. Ferro disse que “hoje, mais do que nunca, a história é uma disputa porque controlar o passado sempre ajudou a dominar o presente”. Por isso é que precisamos nos perguntar quais as condições estabelecidas e as formas e razões das obras históricas, ou melhor, como e porque se privilegiam alguns temas em detrimentos de outros; e de que maneira aqueles temas são abordados. Tudo isso sem nos esquecermos do que o próprio Marc Ferro alertava: “a sociedade frequentemente impõe silêncios à história; e esses silêncios são tão história quanto a história”.

O oficio de historiador é o de buscar compreender e não julgar os fatos. Cabenos tentar estabelecer relações dialéticas com o “objeto de estudo”, considerando que também somos “objetos” nesse processo. É importante entender que a análise crítica, do historiador, feita através de questionamentos, nos conduz a novas demandas, e assim reinicia-se o debate (moto-contínuo) que por sua vez poderá produzir o conhecimento histórico.

Eis, portanto, a beleza, a ciência, a arte e a paixão que a História nos provoca… O homem é um ser que se movimenta, se constrói e se desconstrói: não há deste modo, história fixa!