Artigo

A Academia Vive!

No ano de 1959, alguns homens, idealistas e sonhadores, imaginaram que Ilhéus poderia ter uma Academia de Letras, já que possuía escritores de primeira linha como Jorge Amado, Adonias Filho e Jorge Medauar, dentre outros. Naquela época nosso Amado Jorge (como gosto de chamá-lo), recebia para uma turnê pelo Brasil, nada menos que Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir, o célebre casal francês de escritores existencialistas. Foi o ano da construção de Brasília, foi uma época de grandes mudanças. Estes homens se chamavam Abel Pereira, Francolino Neto, Halil Medauar, Leopoldo Campos Monteiro, D. Caetano… ao todo eram 40 pessoas, formando 40 cadeiras com seus respectivos patronos.

Nossa São Jorge dos Ilhéus sempre a querer “parecer” com o Rio, com as grandes cidades, com os grandes feitos culturais. Não foi à toa que se construiu aqui um “catetinho”, um prédio, o Solar dos Pimentais, muito parecido com a sede do Governo Federal no Rio de Janeiro; também foi construída esta imensa Catedral de São Sebastião, imponente e majestosa; foi construída, no começo do século, uma sede para a Prefeitura com a imponência do Palácio Paranaguá que, ao completar 100 anos de existência, não perdeu a majestade. O povo de Ilhéus, os plantadores de cacau disseminaram na sua cultura o gosto pelo belo, pelas artes, pela poesia e literatura.

Durante mais de quarenta anos a Academia de Letras de Ilhéus, a Casa de Abel Pereira se manteve firme, com seu quadro renovado, toda vez que um membro partia para outra dimensão. A Academia se manteve por causa da persistência dos seus membros que, mesmo sem possuir uma sede própria, reunindo-se de “favor”, ora aqui, ora ali, não deixaram que ela se acabasse. E o sonho da sede própria nunca deixou esses homens que, além de escrever, sabiam sonhar.

Eis que entrou no governo o prefeito Jabes Ribeiro, para mais um mandato. E um dos persistentes integrantes da ALI, o ex-prefeito Ariston Cardoso, seu presidente na época, entendeu de pedir ao prefeito a sede da Academia. Confesso que imaginei uma pequena sala, talvez um pedaço de uma casa, não sei o que pensei, mas, certamente nenhum de nós teve capacidade para imaginar o que estava por vir. O tempo foi passando e parecia que o sonho não se transformaria em realidade.

Dia 14 de março de 2004, dia da poesia, data de nascimento do grande Castro Alves, a sede da Academia foi entregue aos seus membros, mas principalmente à cidade de Ilhéus. Para quem pensou que ela estava destinada apenas aos acadêmicos, pode mudar de idéia. Esta é mais uma casa a serviço da cultura de Ilhéus, que tem recebido visitas diariamente de pessoas curiosas de ver como ficou, e todos saem de lá encantados. Já aconteceram vários eventos, como lançamento de livros, palestras, encontros, onde as pessoas saem encantadas com o esmero com que foi arrumada a casa.

Foi criado o Sarau Literário. A principio poderia parecer alguma coisa fora de moda, sei lá, uma tanto cafona. Mas, deu tão certo que existe até hoje. A direção do evento ficou por conta dos acadêmicos Dorival de Freitas, João Higino e Baísa Nora. Compareceram cerca de 25 pessoas de idades variadas e, muitos jovens. Fico feliz de saber que está acontecendo em nossa cidade um movimento onde rapazes jovens se dedicam a estudar e escrever poesias, a falar de literatura, a gostar de coisas que podem parecer do passado, mas que são cada vez mais novas: a poesia e o gosto pelo belo. Espero que existam muito mais pessoas como Heitor, Rodrigo e Vinicius a escrever e gastar o tempo com poesia.

As pessoas que estavam presentes se disseram emocionadas, principalmente quando uma jovem de 19 anos se levantou e disse que estava emocionada por participar de algo tão grandioso, que estava encantada por viver esse momento.

Se alguém chegou a pensar que seria perda de tempo criar o espaço da Academia de Letras, pode mudar de pensamento. É promovendo a cultura e a arte que teremos escritores, poetas e artistas. E, graças a Deus, São Jorge dos Ilhéus tem a bênção de produzir, entre outras coisas, como já dizia Adonias, escritores.