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Devolvam o que é da Grécia

Como todo o seu exército de deuses, com todo aquele arsenal mitológico, a Grécia está acuada pela União Europeia. Fizeram-na entrar para a zona do euro e agora cobram-lhe os olhos da cara. Sarkozydiz que os gregos são gastadores. Que repelem medidas austeras, que seus governantes costumam maquiar a matemática financeira.

Bancos e corporações, os verdadeiros responsáveis pela crise européia desenhada na Grécia, utilizam recursos dos governos para aliados do FMI, impor uma falsa moralidade. Como exigir equilíbrio de um povo ciclotímico que sempre oscilou entre o céu e o inferno. Ora desce aos labirintos infernais para resgatar Eurídice, ora senta-se à mão direita de Zeus.

Respeitem a Grécia, senhores banqueiros. Ela plasmou de graça para o mundo a educação socrática, a filosofia de Aristóteles, o teatro de Eurípides, os diálogos de Platão, a democracia, a psicanálise e outros achados, a divina escultura das formas harmoniosas, os esportes, a fatalidade – e fez Vênus sair gloriosa das espumas do mar Egeu para estabelecer o reinado do eterno feminino. Isso não vale nada? Uma tradição dessas merece todos os orçamentos em euros da Alemanha e França, no mínimo. E o que ingrato deu em troca à velha Hélade? Aproveitou o sono de Hércules, cansados de tantos trabalhos, e tirou da Grécia quase toda beleza acumulada a séculos. O acervo furtado ainda espalhado pelos museus ocidentais, tal e qual o do Egito, China e outras nações.

Rapinagem internacional. Os gregos têm razão em lutar nas ruas contra imposições econômicas. É hora de exigir ajuda sem contrapartida. Do contrário, a China entra em cena e arrasa. Quem quiser que se ponha no caminho de Tebas em plena ditadura do hedonismo e enfrente primeiro a Esfinge, depois o oráculo. Os gregos já passaram por esses maus bocados. Os pacotes de “ajuda” à Grécia foram mais do que pagos apenas com o valor doa ingressos cobrados há séculos no Louvre e outros museus. Os Estados Unidos vivem assustados com a China – mas nos bons tempos se apossaram de seus tesouros artísticos.