Artigo

O Brasil da dor serena

Em países da União Europeia, como Grécia, Itália, França, Espanha, Inglaterra e Portugal, as populações interessadas reagem nas ruas, em choques às vezes sangrentos com a polícia, contra cortes de salários, aposentadorias e pensões, determinados por instituições oficiais, a pretexto de equilibrar contas públicas.

Este filme os aposentados brasileiros, mormente os de teto acima do salário mínimo (SM), já viram muitas vezes. Resignados, abatidos, vencidos, voltam às salas de projeção, todos os anos, para verificar que os benefícios encolhem. Houve época em que descontaram sobre 20 ou 10 salários mínimos, hoje reduzidos a três.

Diminui velozmente a distância entre o SM dos trabalhadores ativos e os benefícios previdenciários angariados com o trabalho de 18,77% no governo Fernando Henrique Cardoso (que idealizou o fato previdenciário, mecanismos redutor dos benefícios), 48% no governo Lula e, agora, mais de 8% no governo Dilma.

Até 2014, os trabalhadores de SM terão reajuste real de 14,12% (talvez possam comprar ingressos para a Copa do Mundo), contra 6,08% para os inativos, os que lutaram por uma velhice. É difícil engolir a discriminação. Servidores públicos e aposentados em geral sempre foram bodes expiatórios nos programas de reajustes ditados pelo FMI. O neoliberalismo de FHC extinguiu mais de 50 direitos dos servidores.

Enquanto isso, prossegue a corrupção nos três poderes. Por toda parte, acusações de desvio de dinheiro público, cartões corporativos à larga, vantagens indevidas, aumentos salariais instituídos pelos próprios beneficiários, movimentação de contas “atípicas”, desleixo administrativos, crimes impunes. O Brasil pleiteia o título de país da dor serena.

A conta maldita e crescente é paga pelos que trabalham duro ou muito já suaram.

Para isso reservam os primeiros quatro meses do ano. Por enquanto. São contas e mais contas para recursos em queda livre. Na marcha da injustiça social neste País, os bons pagadores irão tirar água da pedra.