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Projetos esdrúxulos

Projetos esdrúxulos rolam nas comissões e plenários da câmara de vereadores do Brasil inteiro. É chuva grossa. Os senhores edis se emprenham em mostrar criatividade, alheios, decerto, à circunstância de estar oferecendo mais combustível aos adversários desses legislativos provavelmente dispensáveis.

Além de sucessivos títulos de cidadania alguns justos, a pessoas acima da linha d’água do desempenho rotineiro, as câmaras municipais promulgam, à vezes, tolices de fazer de fazer rir o mais melancólico dos eleitores. Em Ilhéus, por exemplo, o Pai Nosso é exigido dos alunos em salas de aula da rede pública de ensino, antes do inicio das atividades escolares do dia.

Pois é virou lei, como informa, em mensagem internaútica, o sociólogo e psicanalista Evilásio Cardoso Teixeira. Antigamente costumava- se hastear a bandeira e engrolar o hino nacional. Agora, tartamudeia-se uma oração emblemática do culto católico. Com total menosprezo a outras religiões, em País de notória liberdade de crença religiosa – e com o risco de banalizar um rito que deveria brotar espontâneo, da iniciativa pessoal.

Há tanta medida urgente a propor, em beneficio do pobre contribuinte – e os vereadores abraçam assuntos no mínimo polêmicos, quando não meramente anódinos ou burlescos. Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta da saudosa crônica faceta, os aconselharia a deixar o Padre Nosso para as igrejas, ou para os que estabeleceram linha direta com a divindade.

Ainda na Comarca de Ilhéus, a câmara debateu a falta de espaço nos cemitérios. Famílias são obrigadas a sepultar os seus mortos em campos santos distritais. O que levou um vereador comentar da tribuna: “Está havendo êxodo rural de defuntos…”

Também acerca desse problema angustioso para os ilheenses, outro vereador, segundo o meu informante, lastimou que o cemitério do seu bairro houvesse esgotado a capacidade de guardar despojos humanos. E teria produzido esta pérola: “Em Ilhéus, para quem tem jazigo no cemitério, menos mal; mas para quem vai morrer pela primeira vez, a situação ta mais difícil”.