Artigo

Somos Solidários?

Estava lendo a crônica de Marta Medeiros “O Café do Próximo” relatando o feito de uma livraria no Rio de Janeiro que tem a prática de um cliente, que queira, deixar pago o café do próximo cliente. A autora conclui dizendo: “Mas de uma coisa não tenho dúvida: esse exemplo pequeníssimo de boa vontade terá que um dia ser ampliado por todos nós. Vai ter uma hora em que a gente vai ter que parar de blá, blá, blá e fazer alguma coisa de fato. Ou a gente estende a mão pro tal do próximo, ou o próximo vai continuar exigindo o dele com uma faca apontada pra nossa garganta”.

Ao ler isso fiquei pensando: Será, de fato, que estamos na era da solidariedade? Será que as pessoas compreenderam qual é o papel delas no contexto social? Creio que não.

Vivemos em uma sociedade que se acostumou com os benefícios verticais, com isso o Estado tornou-se o braço forte que vai me sustentar e tem a obrigação de mudar a realidade em que vivo.

Mas, quem é esse Estado? Ora, esse Estado sou eu na minha forma institucional, fui eu quem o criou, sou eu que o administro, sou eu que o comando, sou eu que digo o que deve fazer. Então porque eu também não faço a minha parte? Porque sempre estamos esperando que alguém faça alguma coisa. Onde está nosso espírito de solidariedade? Porque sempre repetimos os mesmos erros e elegemos os membros sociais que nada fazem ou fazem errado?

A nossa constituição diz em várias passagens “É dever do Estado e da Sociedade…” Então cadê essa sociedade que não realiza, mas critica?

O Estado não é o responsável, exclusivo, pelas mazelas sociais, pois nós, como membros sociais, somos responsáveis quando não mudamos essa realidade. Quando não usamos de pequenos gestos como o do cafezinho para ajudar alguém. O processo de mudança não acontece, apenas, com grandes feitos, mas as pequenas ações são capazes de alterar para melhor a nossa vida e dos nossos pares.

O mundo pede mais alteridade para com o próximo, pois cada um de nós é responsável pelo bemestar do outro. Podemos sim, alcançar um mundo possível, um mundo no qual a riqueza do planeta não esteja concentrada nas mãos de, somente, 400 famílias e que um dia a faca que é empunhada para nos agredir, seja uma mão amiga para nos levantar.