Artigo

Retorno às cavernas

Professor de Letras em São Paulo, nos anos70 do século passado, o romancista Osman Lins desconfiou do nível de leitura dos alunos e decidiu testá-los. O resultado ficou em torno do zero. Nenhum deles conhecia diretamente um cânone da língua, Machado de Assis, sobre quem os professores preparavam digestos.

O autor de O Fiel e a Pedra pediu demissão. Não aconselho os professores de hoje a imitá-los. Prefiro que vão às ruas, que enfrentem à polícia, que forcem as autoridades ao diálogo redentor, que multipliquem as agruras de viver com salários de faxineiros, muito aquém do que recebem motoristas do Senado.

Em fórum sobre livros para vestibular; na Unicamp, uma aluna cujo nome omito por pudor escreveu que “ninguém pode ler aqueles lixo de Machado de Assis e seus amigos” (?). Condenou livros dos “tempos passados”, quando não havia internet. Pediu livros adaptados “à geração atual”. Citou como “grandes obras da atualidade” Harry Potter, a saga do Crepúsculo e felizmente esqueceu George Martin.

Ignorância, perda de identidade, desapreço ao nosso maior patrimônio, a língua culta, o hedonismo adoidado explicam as guerra geracional atiçada pela tecnologia dos audiovisuais. A crise de leitura é mais larga e funda do que supomos, e somente será reduzida quando este e outros países privilegiarem a educação em prol do crescimento justo e saudável.

Como pretender uma educação meritória se, na origem, negligenciam o hábito de leitura e, de repente, como lembrou indignado o poeta Henrique Passos Wagner, que é ou foi professor, expõem os mestres da literatura ao martírio da repulsa? Seria melhor, propõe ele, começar pelos autores novos e chegar com segurança aos “históricos”.

A educação brasileira, agora paralisada por uma greve nacional, exige reforma corajosas – mas quem se habilita, pesar de tanto dinheiro, pesar de tanto dinheiro público garfado ou desperdiçado? Voltamos, assim, às histórias de cavalaria, aos mitos, dos quadrinhos. Só falta, por finalidade só falta, por fidelidade à vida real, formalizar Batman- Robin, a respeito da diferenças de idade desses super-heróis.