Artigo

Da necessidade de se conhecer

Eu não sei nada da vida e quanto mais eu vivo, mais dúvidas e incertezas se apossam de mim.

Eu não sei o que fazer e nem mesmo para aonde ir.

Sou um incontroverso apaixonado que se desapaixona fortemente, volúvel como o fogo do meu signo ao sabor do vento.

Em alguma coisa me transformei, só não me pergunte em quê, pois nem eu mesmo sei definir.

São incansáveis as incoerências da mente & coração.

Foram tantas pessoas extraordinárias que passaram por mim, agarrei-me a elas com a mesma força que quis a separação. A isso estão inclusos os amigos e amores. Fumaças perdidas na memória afetiva, muitas vezes sem sons, sem cores, sem toques e até mesmo sem imagens.

Um insano e delicioso vai-e-vem de sentimentos que não me tem feito segurar em nada fixo, descobrindo de uma vez por todas o meu eixo! A vida tornase uma renhida luta para se descobrir quem se é! Para que se é! Por que se é! Não… São todos e tudo fragmentos… Que se vão feito areia quando apertamos nas mãos.

Talvez, eis uma definição, eu tenha me transformado num fantoche de mãos invisíveis (como não acreditar no mundo dos imateriais?), mãos fantasmas, que me movem sem me deixar perceber nenhum senso de direção ou perspectiva.

Talvez, eis outra definição, eu não esteja conseguindo me entregar à vida com a mesma força de antes, por fraqueza de espírito ou por problemas mal resolvidos do passado; por medo das perdas ou pela certeza da ilusão lá na frente…

Somos sempre joguetes de nós mesmos e a existência, essa amante e perigosa inimiga, faz-nos colher do inconsciente as agruras do passado, duras e cruas, sem a poesia que nos eleva para o imagético, para o irreal.

Bebi e bebo das minhas próprias desilusões. É assim que se cresce e se evita o erro. E quem manda plantar esperanças no terreno inapropriado? Agora, já não tenho mais as forças e as motivações de outrora; já não me entrego às paixões e às batalhas desgovernadas.

Um mundo que jamais pensei para mim, sem meios de afastá-lo, veio e, feito uma garra poderosa, levou todas as minhas fantasias & desejos, todos os meus sonhos & aventuras de infante pueril.

Talvez, eis a terceira e última definição de mim mesmo, eu tenha me tornado um adulto sem a maturidade necessária para me aceitar como um homem comum. Sou um eterno melancólico do que eu era, sem querer ser o que sou hoje e também sem querer ser o que eu serei amanhã.

Não sou realmente eu mesmo e não me vejo, muito menos, como o outro. Infelizmente sou incapaz de vislumbrar as margens… Ambos os lados dessa eterna incógnita.

Sou e serei sempre um ser incompleto, eis o que sou em definitivo. Insatisfeito e inconstruído. Sem tempo para nada, tendo tempo para tudo. A preguiça do movimento e a apatia da mudança. O ócio do trabalho e a produção do sedentário.

Desvendo os meus mistérios com o isolamento do mundo físico, fincandome na solidão do metafísico, na dicotomia que penso nesse instante: a fuga dos outros e a distância de mim mesmo para poder me encontrar.