Artigo

Um vinho dos deuses

Na corte, em contato com a fina flor da plutocracia, qualquer plebeu mediano bronco fadado a apurar o gosto. Passa facilmente dos aperitivos fortes – as aguardentes que descem queimando a garganta – aos eflúvios dos vinhos raros. E uma vez viciado, toca a sorver com estalos na língua o que há de mais agradável ao paladar edulcorado. O Romanée-Conti é digno dos deuses. Esta sempre na mesa das orgias do Olimpo. Aqui em baixo, neste vale de lágrimas, fica somente ao alcance dos multimilionários incluídos na relação da revista Forbes. Ora, os brasileiros da classe média e arredores sonham com o luxo, o requinte. É natural que agora, nesse arremedo de abastança do país, queiram enterrar recalques e complexos. Está na hora de degustar um vinho soberbo.

O Romanée- Conti foi apresentado ao ex-presidente Lula, segundo se diz, pelo marqueteiro Duda Mendonça, e de imediato consagrado, tanto assim que, ao completar o segundo mandato, o novo enólogo procurou abastecer- se com algumas caixas, para as vigílias cívicas do o PT no ABC paulista.

O vinho subiu-lhe à cabeça, pois ao reaproximar-se de um antigo desafeto político, o Paulo Maluf caçado pela Interpol, logo o teria chamado ás falas, da seguinte maneira: “Ô Maluf, quando você vai me servir um Romanée-Conti”?

Se o caro leitor ainda não conseguiu provar do vinho famoso, como eu, por força da nossa pobreza burra, certamente viu A Lista de Schindler, filme de Steven Spielberg sobre o industrial nazista que conseguiu salvar 1.100 judeus dos fornos crematórios, graças as malas de dinheiro, relógios, ouro e outros meios de suborno, entre os quais Romanée-Conti.

Vinho não somente alegra o coração de um homem, segundo um ditado italiano; também poupa vidas. Maluf deve ter um bom estoque no seu palacete paulistano, habituado que está ao que há de bom e melhor. Só lhe falta liberdade para gastar no exterior os juros das contas secretas. A propósito de viagens, há governantes e parlamentares que passam até um terço do mandato em viagens de trabalho. O Brasil vai ao mundo, o Brasil vai á forra.