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Vereadores a mão cheia

Aberta a temporada de caça ao voto seja de cabresto ou ingênuo, com ou sem caixa dois, nota-se o fervor não dos leitores, por enquanto calados e taciturnos, mas dos candidatos, que aumentam direta ao reajuste de salários e inversa aos compromissos de trabalho cívico.

Teremos no pleito municipal próximo 531 mil candidatos a vereador, contra 380 mil em 2008. Uma emenda à Constituição criou mais vagas, porque suas excelências, os senadores e deputados, precisam de cabos eleitorais nas bases. Quanto mais e aguerridos, tanto melhor para todos eles.

Quantos vereadores terá o País? Não me perguntem. Os tribunais eleitorais devem saber. Ouvi falar em 59.791, aos quais se juntariam agora 7.343. Um denonado exército de atentos fiscais da coisa pública e criativos legisladores. O Ibope dos políticos está em baixa, em queda livre, mas os candidatos, de calça arregaçada, antecipam-se à vaca na ida para o brejo.

Fazer política é de longe o melhor negócio nesse País. Mais seguro do que arriscar a livre iniciativa no mercado da oferta e demanda. Ou do trabalho remunerado, de sol a sol – esse que derrama o suor da agonia. O deputado federal Tiririca, que em boa hora deixou de ser palhaço, garante: pior do que está não pode ficar. Municípios com até 15 mil habitantes terão direito, ao que parece, a nove vereadores. Escolas caem aos pedaços, professoras sobrevivem da venda de crack, o lixo apodrece nas ruas esburacadas. Calma, sempre se dá um jeito. Tira-se daqui, da merenda, tira-se dali, dos repasses à educação.

Os propositores da vereança robustecida dizem que os gastos municipais com a nova leva serão reduzidos: algo entre 2 e 4,5% do orçamento dos municípios. Apenas. Falou-lhes explicar os cálculos aritiméticos. De qualquer modo, a educação baba de inveja.

Falar disso, talvez a greve dos professores estaduais, que já emplaca três meses, tenha os dias contados: o governo adoça a voz do início das campanhas eleitorais e decide negociar de verdade. Por isso se diz: eleição é festa.