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O engodo das Faculdades de Direito

Acabei de encerrar um processo de seleção para o meu escritório e fiquei estarrecida com o nível dos candidatos. Havia comentado com um renomado colega que estava abrindo algumas vagas para novos advogados e o mesmo deve ter falado para seus conhecidos e a informação correu feito rastilho de pólvora. Recebi quase uma centena de currículos e comecei a procurar aqueles que poderiam preencher as minhas expectativas. Inglês fluente era primordial, bem como informações claras e diretas sobre a formação, um pequeno descritivo dos objetivos profissionais e o número de inscrição na OAB.

A maioria dos candidatos informou que havia feito um rápido curso de inglês, portanto, pelo visto não falavam, não escreviam, ou seja, não entendiam absolutamente nada do idioma. Quanto à formação, muitos passaram dados sobre a aparência física, hobbies, gostos artísticos e tudo aquilo que não tem a menor importância no desempenho profissional. Já, no descritivo dos objetivos profissionais, confesso que não entendi patavina do que pretendia grande parte dos candidatos que, aliás, ainda não havia conseguido a inscrição na OAB, apesar de já ter prestado o exame algumas — ou até diversas — vezes. Assim, concluí que a maioria deles está na profissão errada, talvez por influência de alguém ou pelo custo acessível de alguns cursos jurídicos, os quais passaram a ser uma das únicas opções para se obter diploma universitário. Confesso que num primeiro momento fiquei muito decepcionada com meus novos colegas, mas ponderando um pouco, vi que os mesmos não têm culpa dessa situação. A responsabilidade toda é dos que autorizam e — depois sequer fiscalizam — as faculdades de Direito que pululam em quase todas as esquinas do País. Agindo somente com interesses financeiros, essas arapucas pseudoeducativas despejam semestralmente no mercado uma leva de esperançosos bacharéis sem a mínima condição para entender os meandros de uma profissão que exige competência, sagacidade, formação e estudo permanente, bem como um amor irrestrito e incondicional à matéria.

Se o Ministério da Educação e a OAB não começarem a cortar o mal pela raiz, buscando melhorar o nível dos cursos, fiscalizando instalações, programas, currículos dos professores e tudo aquilo que se necessita para uma formação de qualidade, nossos pretensos futuros colegas continuarão à margem da profissão, sem condições para o exercício profissional e investindo, em muitos casos, tudo o que têm em uma formação que não os levará a lugar algum, dando-lhes como único benefício um diploma que servirá apenas para ser enquadrado e pendurado nas suas salas de visita, isto se as tiverem conseguido comprar com o exercício de alguma outra profissão que, com certeza, não será na área jurídica.