Artigo

Semana de três dias

O foco das atenções nacionais se concentrava na Ação Penal 470 o popular mensalão. Na penumbra, então adensada pelos freqüentes apagões em Brasília, os deputados federais oficializaram o regime da ociosidade oficial: votações em plenário ocorrem doravante às terças, quartas e quintas-feiras.

Semana de trabalho de três dias. Ainda assim, não há garantia de que o parlamentar esteja a postos, disposto a suar o colarinho branco. Pode circular nos corredores e gabinetes, aos cochichos, como fazem muitos. Pois a conversa não é o combustível da política?

Aconteceu na quarta-feira dia 17. O art. 65, inciso II, do Regimento Interno da Câmara foi alterado para legitimar ausências deliberadas. O deputado ora prolonga ora antecipava o final de semana. Agora não precisa ter dores de consciência, se é que esta os acusa de algo. Cumprindo o duro labor de três dias, pega o voo “Graças a Deus” para voltar, finda a segunda-feira seguinte, no vôo “Seja o que Deus quiser”.

Enquanto isso, projetos de interesse da sociedade mofam. Na época do mensalão, alguns foram aprovados com estonteante rapidez. Entre as propostas ignoradas figura a da redução do limite da maioridade penal e outras referentes à criminalidade e proteção urgente da vida.

O trabalhador comum brasileiro moureja 44 horas por semana. Paga do próprio bolso o transporte ao posto de trabalho, paga o combustível, o selo do correio, o telefone. Ele próprio se assessora, à falta de verbas públicas para contratar até 30 ou mais auxiliares. E o salário… Bem, não vou repetir aquele gesto de Chico Anísio com os dedos.

Em Salvador, durante as pirraça de Pelegrino contra Neto e vice-versa os vereadores cuidavam do bolso. Reajuste de 43,5% que eles mesmos estipulavam e aprovaram. O que dirão os professores e os policiais militares? Os R$ 15.030,75 mensais não incluem naturalmente a verba de gabinete de R$ 53.033,16, mais R$ 1.865, de combustível, R$ 300 de telefone e de R$ 750 de tarifas postais. Brasil, campeão mundial de privilégios.