Artigo

Solidão

Ah, essa estranha sensação de se pensar só… Essa estranha força que nos impulsiona ao nada. A solidão é uma sombra do nada!

E, obviamente, ao falarmos, refletirmos sobre o suposto vazio do nada estamos fazendo também ao seu antônimo, nossa referência para caracterizar o vácuo: o tudo. Jamais posso discutir a escuridão se jamais vislumbrei a luz.

A solidão pode ser o estado da alma por excelência. Se bem aproveitada e canalizada pode nos conduzir a caminhos perfumosos de nós mesmos. Assim como pode nos induzir aos abismos colossais da depressão.

Então, conduzir-se a si mesmo é a melhor forma de tirar proveito da solitude: do estar só fisicamente, porém nada implica que o estejamos metafísica e hiperfisicamente.

O poeta é ele mesmo, é grandioso, é verdadeiramente poeta, graças aos momentos insignes que gasta consigo mesmo: suas interlocuções, suas introspecções, seus devaneios. Alcançar o estado poético é entrar em si mesmo e tirar tudo de lá, numa atitude rebeladora de sentidos, imagens e prazeres.

Já a vilania do mundo, suas angústias & obsessões, são germinadas graças às deturpações do “estar só”, do “viver só”, do “não necessitar de alguém”, do “não amar alguém”. Sim, porque estar só não significa necessariamente estar à margem do mundo, ser sozinho.

Muitas vezes encontramo-nos entre tantos e continuamos sozinho. E, outras tantas, estamos só e parecemos estar entre multidões.

A vida humana é como fumaça de cigarro. Como a fragilidade de um pássaro. Inocente como uma grama orvalhada.

A vida do homem pode ser poesia ou pode se catástrofe, comédia ou tragédia anunciadas em sua memória, em seus pensamentos. Pode ser calor como pode ser frio. Pode ser límpida ou pode ser maculada. Ai está o grande dilema do homem, até hoje sem respostas: o ser ou o não ser!

A solidão para alguns pode ser uma maravilha; para outros uma morte em vida.

A solidão pode ser para alguns o elo ao Criador; para outros uma descida ao caos dantesco.

Isso que é viver. Isso que é saber direcionar a vida para que só tenhamos louros – e as coisas ínfimas que continuem ínfimas.

Permita-se estar só. Construir e desconstruir, reconstruindo a si mesmo. Refletir sobre conceitos, conhecer vários, criar outros. Reciclar-se.

É isso o que, para nós, serve a solidão: o estar só, mas não sozinho.