Arapongas no black Power
O movimento negro no Brasil, esteve vigiado de perto pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), nos anos 70, período do Governo Ernesto Geisel. É o que revelam os arquivos da ditadura militar compulsados por dois repórteres do Correio Brasiliense.
Agentes infiltrados nos grupos Black Rio e Black São Paulo registraram em vários relatórios o que lhes pareceu indícios de condutas radicais – e de ‘racismo negro’, conforme diziam – nas entidades empenhadas em ações de inclusão racial e social.
O beijo na boca, praticado por homens e mulheres como saudação, atoordou ao arapongas, que também se assustaram com os toques de mão, cumprimento dos panteras negras (facção revolucionária) americana que enfrentou a polícia, como mortes dos dois lados, no final dos anos 60). Os agentes anotaram ainda amão cerrada e o braço erguido, saudação ao estilo comunista. O regime militar temia que que os programas culturais degenerassem mais adiante em luta armada, a isso levados pelo susposto ódio dos negros ao racismo da sociedade branca, ora disfarçado, ora evidente.
Embora se saiba hoje que o objetico supremo do movimento era e é a recuperação de identidade culural, além de politicas de cidadania, o certo é que a que até a esquerda brasileira radical temia um possível alinhamento de causas com o movimento dos panteras negras e com o movimento culto a Idi Amin Dada. Embora dos ativistas buscassem, em essência, através de um socialismo vagamente definido, a reabilitação social e econômica do negro.
Tanto a esquerda quanto os militares temiam a “tendência” do Black Rio em favor do “imperialismo americano”. A esquerda, em especial, receava uma possível revolução negra fora de seu controle.
De acordo com os relatos – e isso não tem graça, mas não deixa de ser curioso – a cooptação de simpatizantes ocorria em pista de dança de clubes de soul, ao embalo de ritmos de James Brown, Tony Tornado e Gerson King Combo. Decerto os arapongas tiveram aulas de dança, vestiram roupas coloridas e adotaram cabelo Black Power…