Artigo

A plenitude da cidadania é um rumo certo para a educação

Recentemente a imprensa brasileira noticiou o fracasso do ensino de matemática em São Paulo. Alunos de quatorze anos da rede pública municipal de São Paulo calculam como crianças de onze anos. É um choque. Esses alunos avançam para o ensino médio e o atraso no conhecimento só faz aumentar.

Fazendo uma reflexão, observei que não cabe à Universidade pública ou privada, corrigir as problemáticas acumulativas nas séries anteriores. Da mesma maneira o ensino médio não deveria saldar a conta do atraso de nove anos da escola fundamental.

Mas, o que escrever?! São Paulo, o nosso estado da federação mais importante do país, não é uma cidadezinha qualquer. E agora professores, pais, gestores, governo e sociedade? A constituição no seu artigo 205 trata claramente sobre educação. E essa só há com o exercício da cidadania; Mas como, se há um vácuo do poder legislativo gerado por eleições, pelos “compromissos políticos” dos membros do congresso, vácuo este que se refletiu e continua a refletir. Na situação anômala de reedição de medidas provisórias e outras situações. Enquanto a consciência nacional aspira por um amplo entendimento de todos os setores da sociedade para consertar um plano que dê fundamento ao bem comum, mesmo a custa de sacrifícios que se façam necessários, interesse particulares de grupos ou de pessoas impedem que se chegue sequer à mesa de negociações. Esta incapacidade de realizar uma democracia eficaz, vem ao que me parece, em grande parte do despreparo de uma grande multidão de brasileiros para o desempenho de sua cidadania. Daí o caos da educação em nosso país. Dando continuidade a minha reflexão, faço uma análise a partir da colonização do Brasil por Portugal.

Educadores consideravam metropolitana (lembrando que Brasil é colônia e Portugal é metrópole) como responsáveis pela precária situação educacional e cultural do país. Essa perversa herança continuou no Império e na República, condenando o brasileiro a permanecer no estado de ignorância imposto pelo parasitismo lusitano. O educador Manuel Bonfim médico sergipano que atuou durante quatro anos no Rio de Janeiro (1890 – 1894) e escreveu vários livros inclusive didáticos da língua portuguesa em coautoria com Olavo Bilac considerava a educação como meio fundamental para a superação dessa condição e base para o estabelecimento da democracia que deveria alicerçar-se na liberdade. Diz ele: ‘ não há regime livre na ignorância; Para libertar os homens, o primeiro passo é desembaraçá- -los dessa ignorância e entregá-los à posse da própria inteligência: Uma democracia tem uma razão de ser senão para dar a todos liberdade e consciência de si. ” Ele acreditava que por meio da educação era possível romper com a herança colonial e contribuir para a construção da nação brasileira, baseada numa democracia efetiva, alicerçada na liberdade, na justiça e na igualdade.

No meu modo de ver um dos maiores fatores da dificuldade que experimenta o Brasil de libertar-se da situação de crise educacional que o assola está certamente na pobreza da vivência da democracia em nosso país. São poucos os que assumem com sua plenitude e com todas as suas consequências seu papel de cidadão.

Esta incapacidade de realizar uma democracia eficaz vem, ao que me parece, em grande parte, do desempenho de sua cidadania. O educador Manoel Bonfim estava certíssimo em seu pensamento.

É necessário notar que a constituição de 1988, ao tratar de educação, fixa como seus objetivos “o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (art. 205).

O exercício da cidadania é um dos mais relevantes dos fatores para a construção de uma verdadeira democracia. É ai que na sala de aula o exercício da cidadania pode ganhar sua plenitude. Exemplificando: para que o aluno realmente aprenda, é necessário que ele tenha liberdade interna, porque ele ( o aluno) é o agente precípuo no processo de construção do seu saber. O saber não é algo que venha de fora, ele se constrói com aquilo que eu sei e com o que é colocado em relação ao meu ambiente. Então, na verdade essa liberdade é no sentido de fazer com que o saber que o professor transmite, não pode pretender que seja o saber que o aluno adquire. Aquele saber se transforma com os saberes que o aluno têm. Então, isso significa a liberdade a essência da cidadania como declara o educador Celso Antunes: “Cada aprendente precisa ser livre para aprender, porque ele é o agente construtor da sua própria maneira de aprender e dos próprios saberes que constrói.”