Artigo

Até quando!

Sem essa de que só nos preocupamos quando perdemos uma pessoa querida, há muito tempo venho tocando no assunto e tentando chamar atenção das pessoas para o fato. Aqui mesmo no nosso JD fiz um artigo intitulado: “Chama Polícia”, falava do equívoco a respeito da verdadeira função desse órgão. O problema da violência – acreditem – não está construção de mais presídios ou no investimento em equipamentos e armas modernas, mesmo porque, parte dessas armas vai parar na mão dos traficantes. A pergunta é: até quando vamos assistir a toda essa violência como se não tivéssemos nada haver com tudo isso? Como na música de Gabriel o Pensador: “Até quando você vai levando porrada, porrada. Até quando você vai ficar sem fazer nada”?

É preciso entender que todos somos vítimas, do que mata ao que morre – um antes, outro depois –. Explico: o que mata é aquele que, geralmente, nasce num ambiente hostil e sem nenhuma perspectiva de vida, entenda perspectiva de vida como um ambiente normal, longe das drogas, prostituição, álcool e histórias de início e finais trágicos, em que é muito comum o pai ser um alcoólatra ou usuário de drogas, a mãe também usuária de drogas e em muitos casos obrigada a se prostituir. A criança é abusada de todos os jeitos e formas, fica distante de uma educação pautada na formação do caráter e da boa índole. Os bairros não têm pavimentação, o esgoto é a céu aberto, não têm infraestrutura, não há saneamento básico, a geografia é de morros, favelas e casas sem alvenaria feitas a partir de invasões.

O que morre é vítima pela sua inocência e pelo fato de nunca ter se preocupado pela tragédia anunciada do seu agressor. Pelo abandono do Estado que não consegue implementar políticas públicas de melhoria de vida nas favelas, nos morros, nos menos abastados. Aliás, o Estado, prefere manter a população carente refém dos programas de renda, um paliativo que só serve como cabo eleitoral para seus criadores, uma vez que, a família carente que é contemplada com o benefício não recebe as orientações e ferramentas necessárias para saírem da pobreza, tornas-se um ciclo vicioso.

Na teoria, o que poderia evitar essa dependência, seriam as chamadas: “condicionalidades”. Para as famílias terem direito ao benefício, deveriam passar pelos centros de referências como CRAS; CREAS; PROJOVEM; PETI e outros. Esses programas referenciais teriam a finalidade de orientar, treinar e capacitar às famílias atendidas pelo BF para que consigam sair da condição de pobreza e um dia não precisarem mais do benefício e ter o orgulho de fazer isso. Quando fui presidente do CMAS (Conselho Municipal de Assistência Social), pude ver de perto a inoperância dos centros de referências sociais e descaso do gestor municipal que demonstrou ter mais interesse em criar um programa de distribuição de renda semelhante, do que fazer o Bolsa Família e suas condicinalidades funcionarem.

Esse é o ponto, aí está a chave do problema, a velha relação entre causa e efeito, no Brasil se investe bilhões nos efeitos e quase nada nas causas, sabe por quê? Tratar as causas não elege ninguém, essa é a maior evidência da nossa culpa, em escolher candidatos baseado na emoção e não na razão. Na campanha política do ano passado, um candidato a prefeito de Ribeirão Preto (SP), Fernando Chiarelli, fez uma analogia que achei interessante, em suas mãos uma caneta e uma bala de fuzil, e ele perguntava: o que é mais caro, a caneta ou a munição? Eu completo o que causa o melhor efeito?