Artigo

A guerra do cacau

É preciso que haja, de fato, um engajamento da sociedade na causa do cacau, sobretudo porque esta é uma luta de toda a Região. Infelizmente a sociedade está muito distante do assunto, por falta de habilidade na comunicação dos produtores(as) frente à sua comunidade.

Temos que mobilizar as instituições sociais a assumirem conosco a bandeira do cacau. Por exemplo, a Maçonaria. Esta instituição teve e tem um “peso” considerável em todos os processos socioeconômicos da nossa Região e do nosso Estado (isto se considerarmos aqui, por uma questão de espaço, o papel da Maçonaria limitado aos âmbitos regional e estadual), pois, é do conhecimento de todos, maçons e não-maçons, que além de possuir um amplo espaço de influência social, a Maçonaria tem em seus quadros importantes membros da sociedade que, se quiserem, podem ser determinantes no processo da causa-cacau.

A Maçonaria e todas as suas Lojas jurisdicionadas precisa se posicionar! Ressalto que escrevo, exclusivamente, em meu nome, e as observações que faço são, naturalmente, frutos da visão dos acontecimentos que presencio. (Ando distante dos trabalhos maçônicos, mas, não estou distante da realidade que me circunda). Portanto, a questão é a seguinte: se a Maçonaria está de fora das amplas discussões do cacau, a culpa ainda é dos (das) produtores (as), que não souberam explicar, muito bem explicadinho, os efeitos perniciosos da crise do cacau para todos os setores da sociedade.

O agronegócio cacau exige posições firmes. Nossas “lideranças políticas”, infelizmente, vivem do oba-oba dos holofotes, marcam suas presenças na hora da festa e depois somem para então reaparecerem só na época das novas eleições. O caminho do meio, do dia-a-dia construído na ponta do facão, das dificuldades de se cuidar de uma lavoura em agonia por anos a fio e abandonada por quem já se regalou dos seus frutos (econômicos e políticos), é o mais difícil de caminhar, por isso muitos se desencantam.

Os políticos tiram proveito (em causa própria) da nossa desgraça e manipulam as situações de maneira que eles pareçam “fortes e dignos” representantes dos produtores. Temos que ficar atentos. É hora de mudarmos o jogo: chega do esquema um-ganha-o- outro-perde. Todas as boas organizações sociais no Brasil e no mundo já descobriram (e praticam) o jogo do ganho-eu-ganha-você: um esforço conjunto para o bem-estar coletivo. Políticos precisam de votos, nós precisamos de ações. Produtores e produtoras de cacau já demonstraram, sobremaneira, a capacidade de vencer as dificuldades no campo. Por isso, não aceitamos mais os discursos de ocasião.

A troca de interesses deve ser real, transparente e justa. Politicamente, continuamos atrelados a um modelo arcaico e inútil: não fomos nós, cacauicultores (as), que na reabertura dos trabalhos da Câmara dos Deputados em Brasília, fomos homenageados com uma Sessão Solene pelos vinte anos de luta pela terra, mas, o MST, há alguns anos. (A propósito, não vejo nenhum problema no fato de o MST ter sido homenageado em Brasília. Isso apenas demonstra o fortalecimento das nossas instituições democráticas e o nosso amadurecimento político). O que precisamos (produtores e produtoras) de fato, é de uma ação política forte: infelizmente, no Brasil, é preciso gritar bem alto para que sejamos ouvidos.

Enquanto esperneamos por verbas que efetivamente transformariam para melhor a nossa realidade econômica, (verbas que nunca chegam, ou quando chegam são ‘migalhas’ pessimamente distribuídas e atoladas de exigências absurdas) assistimos, pacificamente, milhões e milhões de reais indo para o bolso sem fundo da roubalheira nacional, e continuamos elegendo os mesmos políticos que a décadas contribuem para canalização ‘esperta’ destes recursos.

O mundo mudou. O ‘jeitinho brasileiro’ há muito não passa apenas de uma piada de mau gosto. O amadorismo é uma praga que nos amarra a um passado colonial. Por isso é preciso que produtores e produtoras saibam que a guerra só é vencida quando se vencem todas as batalhas. E as batalhas só são vencidas quando há estratégia e união.