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Quem é o dono da verdade?

Segundo a Wikipédia verdade é aquilo que “estar de acordo com os fatos ou a realidade, ou ainda ser fiel às origens ou a um padrão”. Então, posso concluir que, tudo que tem um referencial teórico ou aconteceu é verdadeiro. Assim, será que posso afirmar que uma teoria se torna verdadeira quando justificada e acreditada? Será que posso afirmar que um fato quando dito ou confirmado ele está fidedigno ao momento que aconteceu?

Se a verdade está associada a uma origem ou a um padrão, ela pode ser única ou diversa. Se um fato é dito, por uma ou várias pessoas, ele, jamais, será fidedigno a sua realidade, pois será contaminando pela individualidade de quem viu ou de quem reproduziu. Assim, se somos seres semelhantes e em sua totalidade diversos, jamais, viveremos com uma única realidade, com uma única crença ou com uma única escolha. Desta forma, não podemos nos direcionar, acreditando que determinados dogmas ou verdades são absolutas.

Tenho como convicção que a única verdade absoluta, decorrente das relações humanas, é nascer de uma mulher ou morrer. Pois, nem a ciência com suas máquinas de fazer bebês, não descartou a necessidade da mulher na gestação e, essa mesma ciência, apesar, de ter criado meios para prolongar a vida humana, não conseguiu transformar o homem em imortal. Por isso, que a natureza se faz dual e, muitas vezes complexa. Verdade absoluta é padrão de dominação, é a vontade imperativa do homem em achar que ele com seus valores pode ditar comportamentos, estabelecer mitos e certezas, as quais devem ser ditas, reditas e acreditadas como se normais fossem. Tenho dito: normal é a crença do dominador que impôs sua verdade e foi acreditada pelos dominados. Os dominados convencidos ou persuadidos reproduziram a verdade que por força da dominação se tornou o padrão. Portanto, tem sido uma perda de tempo essa guerra de foice e de valores, nas redes sociais sobre quem tem razão se: Feliciano, Jean Willis, os evangélicos, os católicos, os budistas, os homoafetivos, os afro-descendentes, os índios, os ruralistas, os nerds, o PT, o PSDB, o DEM, os rurais, as mulheres, os homens, os defensores dos Direitos Humanos, a mídia, os urbanos, os roqueiros, os arrocheiros, os forrozeiros, os funkeiros, os punks, os emos, dentre outros.

Diferenças sempre existiram e existirão, o que precisamos é refletirmos sobre as conseqüências das verdades absolutas, pois, lembrem-se: uma verdade absoluta matou diversos cristãos no coliseu; uma verdade absoluta provocou a 2ª guerra mundial; uma verdade absoluta tem matado mulheres, crianças, adolescentes – tem matado gente; uma verdade absoluta tem provocado a devastação do planeta; uma verdade absoluta tem transformado seres humanos em escravos do corpo, das mãos, das mentes, da vida e uma verdade absoluta tem nos tornado reféns e prisioneiros do medo e da solidão e está afastando os humanos dos humanos e dos seres planetários.

Não precisamos ser fundamentalistas ou vorazes em nossas crenças, pois não somos os senhores de verdade nenhuma. O que acredito não é o que o outro acredita, o que sou não é o que o outro é. Seja autêntico, defenda sua verdade, mas respeite a dos outros. Somos militantes das ideias e não de nossas verdades.

Devemos sim, ser militantes da igualdade na medida das desigualdades, para que todos vivam em condição digna de sobrevivência, para que os acessos sejam amplos e irrestritos e para que o único empecilho seja a escolha de cada um, conforme o seu livre-arbítrio. Quem não tem dúvida do que é ou no que acredita, caminha para a agregação e não para a segregação ou hegemonia, entende a complexidade da vida e se comporta de forma harmônica com as diferenças.

Concordo com Zé Celso quando ele diz: “… nós todos, mortais humanos, que assim se aceitam e que não temos versão única da vida, da “verdade”, nem somos proprietários dela, que amamos a liberdade temos de criar juntos meios para que esta regressão nefasta de aprisionamento da vida aqui no Brasil não aconteça”… Seja ela decorrente de qualquer modelo ideológico de dominação, pois uma verdade tem sempre uma outra verdade…