Artigo

Aprendendo com a cruz

Em 2004 o ator, diretor Mel Gibson produziu um filme conhecido como A paixão de Cristo, filme notadamente marcado pelas fortes cenas de violência, mostradas no processo de crucificação. O filme foi duramente criticado, mas gerou na época várias reflexões. Nesta semana comemora-se a morte e ressurreição de Jesus. Oportuno se faz este artigo para os nossos amados leitores. O processo de crucificação não foi específico para a morte de Jesus, era um martírio comum no Império Romano usado para punir de forma sumária diversos criminosos e opositores do governo. Além de o governo se livrar de ladrões e assassinos dava uma demonstração pública do que era possível acontecer àqueles que vivessem na delinquência. A crucificação era algo vergonhoso, uma punição destinada aos piores criminosos. Acontecia em lugares bem visíveis para que todos pudessem ver e tivessem aquilo como exemplo do que acontecia a quem vivia à margem da lei.

O que a cruz tem a nos ensinar? Historicamente, a cruz é tão marcante que a bandeira da Inglaterra (leia-se Reino Unido) é formada pelos vários tipos usados nas execuções romanas. Entretanto, as linhas que seguem vão se distanciar da historicidade deste fato e propor-nos um mergulho reflexivo em nosso ser. O ato de humilhação começou na prisão de Jesus, passou pelo julgamento vergonhoso e ilegal e continuou na atitude escarnecedora dos soldados e culminou na cruz.

Os momentos que antecederam a cruz foram marcantes. Jesus estava escondido, caçado. Para ser capturado, alguém precisava informar onde ele estava e além disso identificá-lo. “Aquele que eu beijar, esse é; prendei- o e levai-o com segurança”.Jesus foi traído. Muitas vezes vemos que as pessoas fazem isso com tamanha naturalidade que parece ser inconsciente. As relações sociais estão descartáveis que trair e ser traído é algo normal.

Após a traição o que nos acontece é a solidão. “nisto, todos o deixaram e fugiram.” Hoje, ficar só seria praticamente impossível, há concentração de pessoas em todos os lugares. A solidão que antecedeu a cruz foi integral. Mas quantas vezes deixamos de estar presentes na vida daqueles a quem amamos? Nossos pais, nossos filhos. Estamos realmente juntos?

“E alguns começaram a cuspir nele, e a cobrir-lhe o rosto, e a dar- -lhe socos” Quantas vezes somos humilhados física e emocionalmente. Somos obrigados a criar Estatuto para a Criança e o Adolescente, para impedir juridicamente o seu abandono, precisamos criar o Estatuto do Idoso para impedir o seu desamparo. Quando bastava que cada um de nós como membro integrante da sociedade evitasse ou pelo menos diminuísse o abandono de nossas crianças e o desamparo de nossos idosos.

A cruz nos ensina o perdão. “Pai perdoa-lhes pois não sabem o que fazem”. E a ciência nos mostra hoje que o perdão tem o seu efeito terapêutico. Muitas doenças podem ser evitadas ou até curadas quando deixamos nossos corações serem invadidos pelo perdão. Por favor, não confundam perdão com esquecimento. Com o perdão a lembrança existe, mas não há envolvimento emocional sobre ela.

E finalmente, a cruz nos ensina a ter um coração puro. Deus está procurando pessoas puras de coração. O coração puro significa ter a verdade no íntimo que é quem realmente somos na profundidade. Ter um coração puro começa em prestarmos atenção aos nossos pensamentos porque é dos nossos pensamentos que vêm nossas palavras, emoções, atitudes e motivações.

Cada um tem que responder à cruz de Cristo esta é uma verdade inescapável pois o destino de cada ser humano está associado a cruz de Cristo. O Papa Francisco em sua primeira missa pública declarou: “Quando andamos sem a cruz, quando nós construímos sem a cruz e quando nós proclamamos Cristo sem a cruz, não somos discípulos do Senhor somos mundanos.” E continuou… “Nós podemos ser bispos, padres, cardeais, papas, mas não somos discípulos do Senhor”

De sorte que a sua morte não foi um ato heróico em relação ao qual apenas precisamos ter admiração, mas foi sacrifical, vicária e substitutiva. Ele nos confronta e nos cobra uma decisão.