Artigo

A “grande depressão econômica de 1929” X “ A grande destruição da lavoura cacaueira de 1989”

A idéia central que norteia esse artigo é destacar as similitudes entre a “Grande Depressão de 1929” (que encontra correspondência também com essa “quebradeira” atual dos bancos estadunidenses) e a “Grande Destruição da Lavoura Cacaueira de 1989” (respeitando-se, claro, suas proporcionalidades). Penso que ou enfrentamos a crise da lavoura cacaueira com a diferenciação que ela exige ou continuaremos presos a ela, e pior, sujeitos à exploração política dos candidatos de plantão.

O “crack” da Bolsa de Nova York pode ser entendido como um movimento acentuado de queda dos preços das ações numa sessão da Bolsa. Em Outubro de 1929, iniciou-se um período de vários anos de descida da Bolsa que culminou em julho de 1932, quando o índice Dow-Jones apresentou uma perda de 90%, acompanhado por uma falência de bancos e de empresas, além de um elevado nível de desemprego. Aliás, a taxa de desemprego alcançou um recorde de 29% em 1932, uma das mais altas do mundo até os dias atuais. Tais fatos desencadearam uma série de efeitos negativos na economia mundial, a saber: as exportações de produtos agrários(café, trigo, cacau, etc.) e minérios (cobre, zinco, ferro, etc.) de países da América Latina, caíram vertiginosamente; o desemprego atingiu milhões de trabalhadores e os agricultores chegaram a queimar a produção, pois, os preços dos produtos não compensavam o custo do transporte; a falta de abastecimento levou a fome para cidades americanas e as filas para conseguir comida (distribuída gratuitamente pelo Governo) tornaram-se comuns nos grandes centros. Ou seja, a economia americana mergulhara numa recessão brutal, arrastando com ela grande parte dos países capitalistas.

Franklin Delano Roosevelt, presidente dos Estados Unidos de então tomou medidas ‘drásticas’ para reverter aquele quadro desolador. O “New Deal”, ou “Novo Acordo”, Programa de Ações Econômicas, propunha: 1. Na indústria, limites à produção e tabelamento dos preços dos produtos; 2. No setor financeiro, criou-se uma legislação para controlar a atividade da Bolsa e dos Bancos; 3. No campo social, foi estabelecido o salário mínimo, reduziu-se o horário de trabalho de 40 horas semanais e foram introduzidas medidas de proteção aos trabalhadores; 4. Para combater o desemprego, o governo promoveu grandes obras públicas – construção de barragens, estradas, pontes, etc.; 5. Na agricultura, o estado indenizou os produtores, concedeu créditos para pagamento de dívidas, esticou em mais de uma década o pagamento dos novos empréstimos e garantiu preços mínimos. E assim, em 1936, os indicadores econômicos mostravam que a recessão tinha passado. Há controvérsias sobre algumas das medidas adotadas pelo Governo norte-americano, contudo, destaca-se a singularidade com que os Estados Unidos trataram aquela crise.

Na perspectiva do profundo colapso vivido pela lavoura cacaueira, que se arrasta há quase duas décadas, vejo semelhanças (proporcionais, como já disse) entre a “Grande Depressão Econômica de 1929” e a “Grande Destruição do Cacau de 1989” (especialmente quanto às suas maléficas conseqüências). Refiro-me, portanto, à chegada da vassoura-de-bruxa (Crinipellis perniciosa) aqui na Região Cacaueira da Bahia que até a presente data tem causado estragos tão graves quanto aqueles gerados pelo “crack” de ‘29. Isto veremos no próximo artigo.