Artigo

A “grande depressão econômica de 1929” X “A grande destruição da lavoura cacaueira de 1989”

PARTE II

No artigo anterior, vimos uma breve análise referente à crise de ’29, gerada pela “quebra” da Bolsa de Nova York. Agora, examinaremos, brevemente, as décadas de ’80 e ’90, a fim de traçarmos um perfil socioeconômico daquele período, que contribuirá para o entendimento do que tenho designado de “Grande Destruição da Lavoura Cacaueira de 1989”.

Vejamos, portanto: os planos econômicos denominados Cruzado, Bresser e Verão (a partir de 1986, no Governo de José Sarney), buscavam, sem sucesso, controlar a inflação no país. No entanto, o congelamento dos preços acarretou a falta dos produtos por excesso de demanda. O déficit público aumentou e a inflação continuava crescendo. Assim, houve aumento dos encargos financeiros junto ao crédito, estagnação dos preços internos, grandes reajustes da mão-de-obra e dos insumos. Tudo isso, claro, se refletiu sobre a economia cacaueira (1986 e 1989). Para nossa maior desgraça, a Região vivia uma estiagem prolongada. Como conseqüência, tivemos a redução de 100.000 toneladas, aproximadamente, de amêndoas de cacau nas safras dos anos de 1987/1988 e 1988/1989. Vivíamos uma crise (nacional) dentro de outra crise (regional).

Porém, a situação pioraria ainda mais! Com a redução dos preços do cacau nos mercados internacionais (desde 1984) e o aumento dos insumos, os produtores não puderam controlar o avanço da podridão parda. E, muito embora a lavoura cacaueira já tivesse sido “testada” em outras crises (1929, 1957 e 1964), não podíamos (será?) imaginar que uma crise avassaladora estava por vir. Vivíamos o fim da década de ’80 e também o fim do ciclo econômico da cacauicultura. A “vassoura- -de-bruxa”(Crinipellis perniciosa; que se desenvolve nos brotos, flores e frutos do cacaueiro, danificando o crescimento da planta) chegara em 1989, devastando tudo à sua volta!

Diante de tais circunstancias a lavoura cacaueira caiu a níveis antieconômicos: a tecnologia empregada era insuficiente para reverter o quadro da perda de produção, o crédito era difícil, caro e escasso. A Região Cacaueira que havia gerado 1 bilhão de dólares em exportações (1979) e produziu 397 mil toneladas de cacau (1986) teve que, na década de ’90, importar o produto! Assim a lavoura cacaueira que “sempre foi vista como cultura de trato fácil, custo reduzido e rentabilidade garantida, à sombra da qual a região e o próprio Estado se desenvolveram; [onde se] plasmou a identidade histórico-cultural de mais de 90 municípios produtores da zona de influência de Itabuna e Ilhéus, [ocupando] cerca de 600 mil hectares de área de mata, definindo caminhos, ocupação, renda e patrimônio de milhões de pessoas” (Revista Globo Rural, 2005)… Faliu!

Ainda que breve, foram esses alguns dos múltiplos impactos causados pela crise da “vassoura-de-bruxa”. A seguir veremos o PAC- -Cacau: Placebo ou solução? Até breve.