Artigo

A mitocôndria e a educação

Você sabe qual a função da mitocôndria? Não e não se importa com isso? Muito bem… Você sabe qual a função da Educação? Não e também não se importa com isso?… Pois fique tranquilo; você não está só! Na verdade poucos se importam com a mitocôndria e menos ainda com a Educação!

Desqualificada sobre todos os aspectos (o Brasil está sempre nas últimas posições em pesquisas que retratam os índices educacionais – leitura, escrita, raciocínio lógico, etc.) a Educação segue reproduzindo, mecanicamente, as informações das bocas – professores – para as orelhas – alunos(as) – e só.

A maioria dos professores lê pouco, não tem acesso à internet e não consegue aprimorar-se profissionalmente. A maioria dos professores não se atualiza ou atualiza-se através da televisão. Se aliarmos a esse contexto os baixos salários recebidos pela classe, aí então é que perceberemos (pelo menos deveríamos perceber) o quanto estamos distantes da tão decantada qualidade educacional.

Os professores deveriam frequentar regularmente cinema, teatro, shows, exposições artístico-culturais, etc., fazer curso de especialização, mestrado, doutorado, ler bons livros, meditar, refletir, interiorizar-se para se renovar, aprender, e então ensinar! Ó utopia! Ó ilusão… Claro que especializações, mestrados e doutorados, por exemplo, não significam, necessariamente, melhoria na qualidade de ensino: um professor apenas graduado que recebe um salário baixo, pode ser melhor do que um professor com vários títulos e um bom salário. Ou melhor: bom senso, vivência e prática pedagógica contribuem e muito para alcançarmos o sonho da qualidade educacional.

Recentemente, fiscalizando uma prova de Ciências do 8º ano do Ensino Fundamental II, percebi um aluno “engasgado” numa questão. Cheguei mais perto. Observei. Quis auxiliá-lo. Li, na prova dele, a questão que tanto o angustiava: “qual a função da mitocôndria?” Meu Deus! Espantei-me. Há pelo menos vinte anos que eu não me sentia desafiado por aquele “enigma” e, no entanto, apesar do tempo… Ouvi minha voz interior respondendo: “A mitocôndria é responsável pela respiração celular”. Eu sabia! Mas isso não importava. O aluno não sabia. E isso, sim, me importava… E deveria importar a todos!

Creio que uma das explicações possíveis para esse problema esteja mesmo fora da sala de aula: a sociedade (pais, responsáveis e outros) não prestigia o trabalho do professor; não acompanha os filhos(as) e não se preocupa com a qualidade da Educação. Ah, sim, o Governo também está se lixando pra tudo isso. (O que o Governo quer mesmo é engrossar as estatísticas positivas e votos em abundância para se perpetuar no poder!). O resultado, portanto, desse desinteresse geral é previsível: professores desatualizados, desinformados e desestimulados; formando alunos desatualizados, desinformados e desestimulados.

Leia a seguir o desabafo de um colega professor com uma carga-horária máxima (carga é a palavra exata), ensinado em três escolas diferentes, para garantir um “troco” que em verdade apenas possibilita sua sobrevivência e o exclui (exclui a maioria dos professores) das oportunidades de crescimento intelectual, espiritual e material: “Estou para entrar em depressão de tanto dar “murro em ponta de faca”. Está tudo tão deteriorado que eu não sei mais se a escola é o reflexo da atual sociedade, ou se é a sociedade o resultado da ruína desta escola que aí está!”.

Pois é, “depressão”, “ruína”, “murro em ponta de faca” são vocábulos e frases que fazem parte do cotidiano da maioria dos professores… Já entre os alunos(as) verificamos que eles não se importam com a aprendizagem, brincam o tempo todo, e são descompromissados – não necessariamente nessa ordem.

A mitocôndria e a Educação; quem se importa com as suas funções? Quase ninguém. Mas, se nos importássemos de fato, no mínimo, aprenderíamos que são essenciais para as nossas vidas!