Artigo

O gigante acordou

Há cerca de 10 dias escrevi um artigo falando sobre a sociedade do medo. A sociedade que se retrai, que não se une em propósitos coletivos e, assim, deixa ser vilipendiada por uma minoria de oportunistas e de demagogos que se utilizam das falácias políticas, do poder institucional e dos mecanismos de convencimento, mentirosos e sórdidos, para manterem a massa presa a diversos grilhões.

Grilhões que, desde muito tempo, já tinham sido anunciados por Rousseau em seu livro o contrato social, quando disse: “O homem nasce livre e por toda parte geme agrilhoado; o que julga ser senhor dos demais é de todos o maior escravo”[…] Mas, seguindo adiante Rosseau afirmou: […] enquanto um povo é forçado a obedecer, e obedece, faz bem, e melhor ainda se, podendo sacudir o jugo o sacode; pois, recuperando a liberdade pelo mesmo direito com que lha extorquiram, ou ele tem o direito de retomar, ou ninguém o tinha de lha tirar”. (Capítulo I – objeto do primeiro livro).

E o povo brasileiro assim o fez, quebrou os grilhões, saiu da jaula está retomando a sua liberdade de ser povo, de viver em uma democracia de exigir o que lhes é de direito, de se fazer ouvir e poder dizer eu sou o titular do poder dessa Republica que se chama Brasil. Um som de não agüento mais, de que quero algo melhor.

Um som que une jovens, adultos, velhos, brancos, negros, mulheres, heteros, homos, que une todas as tribos. Um grito de solidariedade que ecoa dos que estão lutando por direitos imediatos, por direitos que são do seu dia a dia e do seu cotidiano, mas também um grito daqueles que entendem que viver em sociedade é lutar junto, é lutar amplamente, é lutar pelo que é meu, pelo que é teu e pelo que é nosso.

Oportunistas sempre aparecerão, querendo se beneficiar ou querendo desconstruir um movimento legítimo, mas esses não podem minar o sentimento e o desejo que se extrai dessa multidão que se espalhou do Oiapoque ao Chui e que todos nesse momento, até os mais incrédulos, duros e individualistas, estão se questionando: que Brasil quero para mim e para os meus?

Um movimento que não sabemos quais serão seus frutos, mas uma coisa é certa, já está mexendo com as estruturas políticas, com os debates que virão no legislativo e, que pode direcionar uma mudança nas praticas do poder executivo, no sentido de estar mais aberto para os movimentos sociais e, com eles, debater de forma participativa e democrática as agendas de interesses.

O povo brasileiro está demonstrando não aceitar migalhas e muito menos projetos construídos por meio de interesses bilaterais e escusos, pois política séria e política desenvolvimentista e política sustentável se faz com a participação de todos. O movimento é um alerta.

O movimento deixou bem claro que vai para o enfrentamento se for necessário. E isso deve ser levado em consideração, pois quando Direitos são ameaçados, e quando se mexe com a estabilidade e o bem- -estar do ser humano tudo pode acontecer. E, apenas, lembrando: que quando as andorinhas se unem elas são capazes de promover grandes transformações, mesmo que algumas delas fiquem no meio caminho…

Hoje, dia 19 de Junho de 2013, fui a rua e vi nos cartazes, nos gritos, nos alertas, nas caras pintadas, nos jovens cheios de esperança, que podemos sim fazer um Brasil melhor, um Brasil que realmente seja pensado para todos, que conceda acessos e que permita que cada um possa fazer suas escolhas. E que essas escolhas sejam amplas e irrestritas.

Posso acreditar que o Gigante cansou de ficar deitado em berço esplendido e, que aos poucos, vai firmando os seus passos. Parabéns ao povo brasileiro…