Artigo

Preparação para o casamento

Faz pouco tempo fui convidada para fazer uma palestra num curso de noivos. Isso acontece com regularidade, pois muitos sabem que trabalho há anos com casais nas Varas de Família e também em consultório particular, tendo inclusive escrito um livro sobre relacionamento a dois (maiores informações no site: www.mariaregina.com.br). Sinto prazer em poder contribuir com orientações aos jovens namorados, preferencialmente atuando de modo preventivo, pois como diz o ditado: prevenir é sempre melhor que remediar. Nesse sentido, aquele encontro foi para mim uma grande decepção.

Muitos casais me olhavam aparentemente perguntando o que estavam fazendo ali. Vários já se encontravam “grávidos”, ostentando barriguinhas de até sete ou oito meses. Alguns ainda dormiam vez que o encontro aconteceu no período da manhã. Falei em torno de cinquenta minutos, ressaltando os compromissos entre os pares e deles para com a prole. O espanto foi geral. Ninguém caiu da cadeira, mas os que dormiam acordaram rapidinho. Aqueles olhos arregalados me fizeram refletir sobre como nossos jovens estão se casando despreparados. Para eles vale a máxima: se não der certo a gente se separa. E os filhos? Ah, quem se preocupa com filhos? Aliás, quem são os filhos?

Num mundo em que a adolescência termina cada vez mais tarde, e encontramos inúmeros trintões adolescentes, seus filhos são apenas concorrentes vistos com desconfiança. Aliás, o hit do momento é brincar de casinha. As pessoas querem se casar porque desejam colocar aquele terno e o vestido de princesa, com coroa e flores. Depois viajar para cenários mágicos, curtir momentos incríveis a luz de velas, regados a um bom vinho ou champanhe. Que maravilha!

A complicação começa com o desafivelar das malas, pois elas voltam com várias roupas sujas que precisam ser lavadas. Se o bebê já está encomendado, como acontece muito, logo tem também chorinho em casa. Facilmente os adolescentes se cansam, pois brincar de casinha tem suas implicações e não dá para guardar o bebê no guarda roupa logo que a brincadeira acaba. Alguém tem de cuidar dele até que cresça. Normalmente é a vovó, pois papai e mamãe seguem buscando outros amiguinhos para tornar a brincar de casinha e fabricar novos bonequinhos para que os outros cuidem.

É triste, mas é a realidade. Nossos jovens não estão preparados para assumirem as responsabilidades inerentes ao casamento. Preocupam-se com o supérfluo e descuidam do essencial. Não sabem que os verbos a serem conjugados do início ao fim são: amar, perdoar e, principalmente, renunciar! Ambos se concentram, cada qual em seu próprio projeto, e não conseguem abrir mão dele em prol da família agora constituída.

Terminada a palestra não se ouvia um “piu”. Ninguém fez perguntas. A maioria de olhos esbugalhados e boca aberta. Foram convidados a tomar o café mais cedo já que nenhuma indagação surgiu. Ninguém se mexeu. Imóveis, eles continuavam me olhando. Pareciam ter medo de se levantar. Precisei pegar o microfone novamente e dizer que realmente eu os estava dispensando mais cedo para o café e que eles poderiam se levantar e ir. Só então saíram, e eu fiquei com a terrível sensação que caminhavam quase todos como ovelhas sem pastor.