Artigo

A involução da escola

Os caminhos da Educação em nosso país são os resultados do desleixo e da aceitação passiva da nossa sociedade: não se prioriza a Escola, por isso negligenciamos o presente e pomos em risco o futuro. Acompanhe abaixo o relato de uma desesperada professora de Matemática. Leia com atenção…

“Semana passada, comprei um produto que custou R$ 15,80. Dei à balconista R$ 20,00 e peguei na minha bolsa 80 centavos, para evitar receber ainda mais moedas. A balconista pegou o dinheiro e ficou olhando para a máquina registradora, aparentemente sem saber o que fazer. Tentei explicar que ela tinha que me dar 5,00 reais de troco, mas ela não se convenceu e chamou o gerente para ajudá-la. Por que estou contando isso? Porque me dei conta da “evolução” do ensino… Acompanhe os problemas matemáticos formulados em diferentes épocas. Em 1950: um feirante vende uma cesta de frutas por R$ 100,00. O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda. Qual é o lucro? Em 1970: um feirante vende uma cesta de frutas por R$ 100,00. O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda ou R$ 80,00. Qual é o lucro? Em 1980: um feirante vende uma cesta de frutas por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Qual é o lucro? Em 1990: um feirante vende uma cesta de frutas por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Escolha a resposta certa, que indica o lucro: ( ) R$ 20,00 ( ) R$ 40,00 ( ) R$ 60,00 ( ) R$ 80,00 ( ) R$ 100,00. Em 2000: um feirante vende uma cesta de frutas por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. O lucro é de R$ 20,00. Está certo? ( ) SIM ( ) NÃO. Em 2009: um feirante vende uma cesta de frutas por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Se você souber ler coloque um X no R$ 20,00 que se segue ( ) R$ 20,00 ( )R$ 40,00 ( ) R$ 60,00 ( ) R$ 80,00 ( ) R$ 100,00”.

Claro que todos nós somos responsáveis por esse caos. Por isso é importante que lutemos para que o processo de involução da educação não se enraíze ainda mais. Se tivermos atentos às considerações de Frei Beto (frei Dominicano e escritor), creio que estaremos seguindo num bom caminho. Reflita: “Empenha-te para que a escola seja de qualidade, os professores bem preparados e remunerados, as instalações adequadas e limpas, os recursos fartos, os equipamentos atualizados. Mas escolhe a escola. Não se faz cidadania sem escolaridade, nem democracia sem cultura centrada nos direitos humanos e na prática intransigente da justiça. Não se aprimora o humano sem ética e valores infinitos enraizados na subjetividade. Escolhe a escola”.

Portanto, escolher a escola como prioridade é escolher o presente que se transforma, a cada dia, para melhor. É também escolher um próspero futuro para todos. A Escola é muito mais que um “estacionamento” de alunos e alunas!

A escola nem sempre se resume a uma construção retalhada em salas de aulas, preenchida por alunos devidamente matriculados. Faz-se escola sob a tenda indígena ou a lona do assentamento, no quintal de casa ou na sala de uma igreja, na garagem ao lado ou no cinema cedido às aulas matinais. Escolhe a escola. E ao escolher a escola, não permitas que em torno delas os políticos inflem seus discursos demagógicos. Exige deles – nossos servidores públicos – compromissos efetivos e assinados, de modo que a educação, de qualidade e para todos, seja considerada prioridade neste país.

Aproximamo-nos das eleições e os mesmos políticos que se ausentam durante quase quatro anos, retornam, agora, à “caça” dos votos que os (re)colocam no poder sem que tenham de se empenhar, seriamente, com o que prometeram ou prometem. Por isso é que desejo que nós todos estejamos atentos a mais este conselho de Frei Beto: “Ao votar, escolhe candidatos comprovadamente empenhados em transformar o Brasil numa imensa escola voltada ao fortalecimento da cidadania e ao aprimoramento da democracia”.