Artigo

Sorrir é o melhor remédio III

– Não, rapaz, a estória é a seguinte: Primeira vez em São Paulo e Rio de Janeiro. Menino novo, solteiro, dinheiro no bolso, trabalhando no Banco Econômico, curtindo pra caralho, num tinha casado com a primeira mulher ainda…

Na hora de vim imbora, comprei passagem de avião no Rio, sonho de infância viajar e tal.

Quando entrei no avião, fui logo bem recebido. A aeromoça abaixava a cabeça, assim, cumprimentando a todos. Bonitona, toda arrumada.

E aquela alegria por dentro. Não tem aquela alegria de criança? Avião, pô? Avião… Aquela coisa de criança que nunca viu alguma coisa… Esses dias mesmo, passou aí, não sei onde foi, no Globo Rural, alguma coisa assim, um monte de crianças para conhecer o mar… Porra! Aquela coisa alegre assim por dentro, né? Para mim, era novidade.

Aí eu falei assim
– Ó, quero sentar do lado da janela, para botar o braço… quero sentar do lado da janela… para botar o braço pra fora!
Ela (a aeromoça) sorrindo, eu sorri para ela, ela sorriu de volta para mim… Eu pensei: Opa, vai rolar, vou me dar bem. Homem de sorte.
Aí vem o negócio do biscoitinho… Aqueles quadradinhos, que comiam assim…
– Social, clube social?
– Clube social, aquele ali mesmo, pá… Um guaranazinho, pá…
Isso aqui é bom demais!
– Ué, – eu falei – isso aqui é quanto mesmo?
– Não se preocupe, não, moço, está incluso na passagem…
A aeromoça informou.
Aí eu
– Beleza, é hoje que vou me dar bem!
Vou comer um bocado!
Todos na mesa riam do “causo”. – O senhor aperta o cinto, por favor.
Aí eu apertei o cinto… pá…
– Senhores passageiros… O chofer lá, o piloto: – Senhores passageiros, senhores passageiros…
É que o avião fazia conexão em Ilhéus, e ia para Salvador. Eu nem sabia que porra era conexão. Conectar o quê? Oxi, que porra é essa…
Aí:
– Senhores passageiros, estamos fazendo a conexão em Ilhéus.
Eu pensei:
– Ih, os cara não vão me deixar aqui, vão me levar pra Salvador…
Aí, eu ó…Tá lá o nylon azulzinho lá, da janela… Acostumado com o coletivo Califórnia- Centro, panhei o bicho aqui, e puxei…
Eu puxava e não ouvia o bicho tocar, cê tá entendendo?, e aí eu insisti, cara, e o avião tá lá fazendo a porra dele lá. Mas eu vi tocar lá a sirene do chofer, do piloto…
Aí a aeromoça vinha vindo, tinha visto aquilo ali, desesperado, veio a mim, eu sabia que ela tinha gostado de mim já, ela falou:
– Moço, que foi moço?
– Não… que eu vou descer aqui, minha casa aqui, antes que vocês passem aqui… Vou descer aqui, antes que vocês passem aqui…
– Não moço, não se preocupe, não… O avião vai fazer conexão aqui. A gente vai descer aqui.
Aí eu:
– Ah! Valeu, brigado, brigado, brigado…
Aí desci, né. Levanta todo mundo, aquela fila, eu falei “eu vou ficar por último, né? Eu já cheguei mesmo, né?” Vai todo mundo lá. A aeromoça, ó, se abaixando para todo mundo: “tenha uma boa estadia!”
Quando chegou minha vez, ela… eu..
– E minha mala?
Ninguém se aguentava mais de tanto rir.
– Minha mala? Repetia.
Levei toda roupa que eu tinha, nunca tinha ido em São Paulo e Rio. Levei toda a roupa que eu tinha… aí, perco a mala?
– E aí?
– Não, moço, não se preocupe não. O senhor vai para o desembarque que a sua mala vai chegar lá.
Aí fui lá para o desembarque, cismado ainda.
Fui lá e a esteira lá, rodando, tava o povo lá com aqueles carrinhos, uma ruma de mala lá, e eu de cá, num tou vendo a minha. Começou a passar mala, passa mala. Tão pegando as dele, pegando as dele. Nada a minha. Quando olhei, évem ela ali toda manjadinha. Eu falei “conheço você… eu conheço você!”. Fui para a rodoviária e peguei o coletivo para Itabuna. Fui de coletivo para Itabuna!