Artigo

Brasil: Filho da… Pátria!

Eis o porquê da expressão: “deixar o cachorro passar e implicar com a pulga”. Paulo, 28 anos, casado com Sônia, grávida de 4 meses, desempregado há dois meses, sem ter o que comer em casa foi ao rio Piratuaba – SP a 5km de sua casa pescar para ter uma “misturinha” com o arroz e feijão, pegou 900gr de lambari, e sem saber que era proibido a pesca, foi detido por dois dias, levou umas porradas. Um amigo pagou a fiança de R$ 280,00 para liberá-lo e terá que pagar ainda uma multa ao IBAMA de R$ 724,00. A sua mulher Sônia grávida de 4 meses, sem saber o que aconteceu com o marido que supostamente sumiu, ficou nervosa e passou mal, foi para o hospital e teve aborto espontâneo. Ao sair da detenção, Ailton recebe a noticia de que sua esposa estava no hospital e perdeu seu filho, pelos míseros peixes que ficaram apodrecendo no lixo da delegacia. Quem poderá devolver o filho de Sônia e Paulo?

Por outro lado, Henri Philippe Reichstul, de origem estrangeira, Presidente da Petrobras (na ocasião em que o fato acima aconteceu) responsável pelo derramamento de 1 milhão e 300 mil litros de óleo na Baía da Guanabara, matando milhares de peixes e pássaros marinhos; responsável, também, pelo derramamento de cerca de 4 milhões de litros de óleo no Rio Iguaçu, destruindo a flora e fauna e comprometendo o abastecimento de água em várias cidades da região, crime contra a natureza, inafiançável, encontra-se em liberdade e podia ser visto jantando nos melhores restaurantes do Rio e de Brasília…

É bem provável que tenha sido por essas e por outras coisas assim, muito comuns no Brasil desde tempos imemoriais, que Renato Russo (líder da banda Legião Urbana) lá pelos anos de 1990, cantou indignado: “Que país é esse?”

No entanto, lá pelos anos de 1980/83, outra banda, a “Ultraje a Rigor”, que fez um grande sucesso em 1985, com o álbum “Nós Vamos Invadir Sua Praia”, escreveu uma canção que permanece tão atual quanto aquele questionamento do Renato Russo: Parece que o tempo não passou, pelo menos no que diz respeito à ética, a seriedade, a honestidade e a transparência na política brasileira.

A canção do “Ultraje” dizia o seguinte: Morar nesse país/ É como ter a mãe na zona/ Você sabe que ela não presta/ E ainda assim adora essa gatona/ Não que eu tenha nada contra/ Profissionais da cama/ Mas são os filhos dessa dama/ Que você sabe como é que chama/ Filho da ?**! / É tudo filho da ?**! / É uma coisa muito feia/ E é o que mais tem por aqui/ E sendo nós da Pátria filhos/ Não tem nem como fugir/ E eu não vi nenhum tostão/ Da grana toda que ela arrecadou/ Na certa foi parar na mão/ De algum maldito gigolô/ Filho da ?**! / É tudo filho ?**! / ‘Cês me desculpem o palavrão/ Eu bem que tentei evitar/ Mas não achei outra definição/ Que pudesse explicar/ Com tanta clareza/ Aquilo tudo que agente sente/ A terra é uma beleza/ O que estraga é essa gente/ Filho da ?**! / É tudo filho da ?**!”

Mas, vamos adiante. Dizem que “brasileiro não desiste nunca”…

O “Le Monde Diplomatique Brasil” (Ano 4, nº 43), questiona em reportagem de capa “Onde fica a linha da pobreza” brasileira. Lê-se que, naquele periódico, por exemplo, que “para erradicar a pobreza, é preciso promover transferência de renda dos mais ricos para os mais pobres. É um jogo de soma zero: se você põe em um lado, tem de tirar de outro. Então, o conceito de pobreza – absoluta e relativa – vai determinar o quanto é preciso transferir, o que sempre é uma questão delicada”. Ainda segundo o Le Monde, conforme Eduardo Fagnani, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, “nossa linha de pobreza foi fixada em R$ 120,00 (reforço: 120 reais por mês)”. E mais: no Brasil, que adota o critério restritivo do Banco Mundial, pobre é quem recebe até 2 dólares por dia; e miserável é quem recebe 1 dólar. Vejamos agora outra publicação: a revista “Piauí” nº 53 de fevereiro. Naquela revista podemos ler trechos do que Dilma Rousseff escreveu no diário dela. Por exemplo: “A situação está muito pior do que imaginava. Tem como botar na conta do FHC?”. E mais adiante, uma passagem no mínimo espantosa. No dia 31 de dezembro, Dilma, às 22h33, anotou: “Não esquecer: cerimônia de posse amanhã”(!).

Enquanto isso em Brasília… Romário e Tiririca foram empossados como Deputados para engrossar ainda mais o caldo da malandragem…

Ah, por falar em malandragem, lembrei- me agora de outra canção muita apropriada para o Brasil de hoje (e de “ontem” também) “Homenagem ao malandro”, de Chico Buarque, com a qual encerro esse arrazoado: “(…) Agora já não é normal, o que dá de malandro regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial, malandro candidato a malandro federal, malandro com retrato na coluna social; malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal”.