Artigo

O canto dos pássaros

Naquelas condições raramente ocorre um acidente. Não foi marítimo nem terrestre, mas um inédito acidente aéreo. Falo de um passarinho que estava voando, quando foi enforcado numa linha de cerol. Não teve o pescoço decepado, graças a sua penugem, mas morreu com a “boca escancarada” e a língua de fora.

Fato público e notório, até hoje se encontra lá, pendurado numa linha, no Bairro Lomanto. Sob um sol inclemente, cada dia seca mais, e vai se tornando parecido com um objeto de museu: um pássaro de palha. O culpado saiu do fragrante e encontra-se foragido.

Controvertida e passional é a sua mortis causa. Para uns, que o considera um pássaro macho, quem o matou foi o seu dono, com ciúmes por pegá-lo cantando a sua esposa; outros, que o consideram um pássaro fêmea, quem a matou foi sua dona, com ciúme por pegá- -la cantando o seu marido. O móvel do crime continua indefinido, mas até o delegado de polícia admite, extra-oficialmente, uma dessas duas hipóteses.

Resgataram o corpo da vítima e fizeram-lhe uma necropsia. O laudo médico diagnosticou tratar- -se sexualmente de um hermafrodita. O acidente pode ter sido provocado tanto pelo homem como pela mulher, ou pelos dois, numa perfeita co-autoria.

Não se trata de atipicidade. Para isso existe o código de preservação das animais silvestres. O fato é típico e o crime continua impune. No entanto, não há queixa, representação, nem inquérito policial, para dar respaldo a uma denuncia.

O Canto dos Pássaros não está sensibilizando mais aos representantes das entidades ecológicas!