Artigo

Teatro e televisão: CULTURA descorpolarização

Por que você quer fazer Teatro? Eu sempre faço esta pergunta quando começo uma oficina. Quero entender o que motivou aquela pessoa a freqüentar as aulas de interpretação. E, quase sempre ouço a mesma resposta: perder a timidez! Ou ainda: Trabalhar na Televisão! Eis aí um ponto interessante para abrir a discussão de hoje: Fazer Teatro para fazer Televisão. A Televisão consegue passar a falsa impressão de que todos que fazem Teatro um dia estarão na frente das câmaras. Esta convicção, ao mesmo tempo em que é nociva, serve de estímulo aos jovens para freqüentarem os cursos de interpretação. E, quando resolvem encarar de verdade o batismo da ribalta, descobrem que a TV não é tão atraente assim. O Teatro sim, vicia, transforma, diverte, excita, abre caminhos, permite escolhas.

O Teatro representa, na televisão, como bem afirma Patrice Pavis: “um papel que não deve ser negligenciado. Todo um público só verá Teatro sob a forma de uma retransmissão, de uma gravação ou de um teleteatro. A produção teatral é, atualmente, muitas vezes guardada sob a forma de um vídeo gravado. Portanto, é capital refletir sobre as relações destas duas artes e sobre as transformações sofridas pelo evento teatral, quando transformado em programa de TV.”

Vale salientar que a falha técnica, sempre interessante no Teatro, significa na televisão o branco integral e o fim da comunicação. Não podemos negar que a televisão multiplica e muito por dez mil, numa única noite, o público médio de uma peça. Entretanto, você não pode “desligar” uma peça ou “congelar” uma imagem na cena, sair e voltar depois para continuar assistindo. Ou vê-la novamente a hora que desejar. O Teatro é único. Por mais que as cenas se repitam a cada apresentação, elas nunca são as mesmas, mesmo que pareçam iguais.

“O encenador televisivo de um espetáculo teatral preexistente ou de teleteatro pode escolher seja anular as manifestações mais evidentes e cênicas da teatralidade buscando efeitos- -cinema, naturalizando a atuação e os cenários, seja afixar de maneira ostensiva esta teatralidade, ressaltá-la através de um cenário abstrato, uma dicção muito cantada, como se a câmera efetuasse uma reportagem sobre os espaços teatrais.”

Eu ainda prefiro o Teatro. Na televisão, “o ator só existe em sua fragmentação, em sua metonímia, em sua integração ao discurso fílmico.” É só observar que o que é levado em conta são somente suas reações psicológicas e fisiológicas, em planos americanos – típica imagem em que a personagem é vista do joelho para cima. Na Televisão pode até facilitar a visualização da movimentação e o reconhecimento da personagem, mas, no Teatro a gente chama isso de descorpolarização.