Artigo

Pânico geral e irrestrito

A síndrome do pânico evolui de casos pessoais para doença coletiva. Não estou. Estou naturalmente, descobrindo a pólvora, que já tenho. É obvio que a violência que a violência já generaliza e os governantes preferem combater os efeitos de sanar as causas. Fica mais fácil.

Em pouco tempo, menos de um século, passamos do apito do guarda noturno no quarteirão à vigilância de cães ferozes, transformamos janelas e portas em grades de prisão as casas migraram para os condomínios-fortalezas.

Seguiu-se o aparato eletrônico: porteiro 24 horas, câmeras, olho mágico, trancas de ferro, cadeados. E ainda assim, prisioneiros domiciliares sem as vantagens de um Genoíno, continuamos com medo – muito medo.

Medidas de segurança se sucedem porque a criminalidade compete com a tecnologia e a inutiliza. Cresce, então, a sensação de pânico. Talvez estejamos perdidos, condenados, a pensar no que será dos netos. Provavelmente estes dirão que os avós viviam no paraíso.

Lei municipal recém-sancionada em Salvador obriga condomínios comerciais e domiciliares a instalar portarias com altura mínima de dois metros e o já clássico interfone. Será a torre blindada da nossa Papuda, com acréscimo na taxa condominial que equivale a um aluguel.

Calma, senhores das leis e dos anéis: não sou contrário a esta nova medida cautelar da parafernália eletrônica supostamente protetora. Aceito-a como uma dessas fatalidades da aldeia global. Cobram-nos o ônus da segurança que fingem nos dar em troca dos impostos.

Tudo isso é engraçado – graça que traz o travo do humor negro. Melhor cessar a grave e douta discussão nacional sobre rolezinhos e organizar os nossos. Quem não tiver ânimo para.

Para essas manifestações que fiquem em casa.

O governo federal acaba de fazer um rolezinhos em hotéis e lisboetas de luxo, no retorno de Davos. Teria sido uma escala técnica, para o abastecimento – versão ainda não esclarecida de todo. Gastos dessa ordem ajudariam a combater as origens do medo coletivo.