Artigo

De pedrinhas, rolezinhos e revolução francesa

Ao ler nosso tema, você querido leitor, pode se sentir confuso, mas com um pouco de paciência vamos juntos desatar esse nó. Ao usarmos o termo Pedrinhas estamos nos referindo a prisão no Maranhão que sinaliza mais uma vez o colapso do sistema prisional brasileiro. Digo mais uma vez, porque anteriormente a Pedrinhas o que a mídia mais divulgava era o Complexo Prisional do Carandiru, que deu origem ao filme Carandiru (adaptação da obra Estação Carandiru de Drauzio Varela) onde a trama de um médico voluntário em um presídio prestes a viver um dos seus maiores massacres.

Os rolezinhos, forma carinhosa do rolé, são eventos marcados por jovens de comunidades carentes que ao fazerem uso das tecnologias de informação (Tis), mais precisamente de suas redes sociais, convocam seus seguidores para se divertir, ou como eles mesmos dizem “zoar.” Na realidade, sua etmologia está ligada a bagunça, agitação intensa, rápido movimento circular. Não confundir com gola roulé ou bife rolé, Na realidade vem de roda e dá origem a palavra rolete (minha filha é professora de educação física e ela disse que é um lance de capoeira, aquela em que o dançarino apoia as mãos no chão e atira uma perna).

Para a gramática rolezinho pode significar pequeno passeio, mas sociologicamente existem várias opiniões, pelo fato de se aglutinar uma grande massa de pessoas que em ambientes como shoppings, o que causa no mínimo desconforto. Ao nascerem como movimentos despretensiosos, voltados para o processo de socialização da juventude, os rolezinhos possuem uma lógica interna, onde os jovens procuram se agrupar não como uma turba, que foi o que vimos nas imagens da TV. O fato é que este novo cenário reviveu a dor exposta do forte preconceito existente no Brasil.

Ao adentrarem espaços como os shoppings, o que se vê é uma forte insegurança, por parte daqueles que regulamente os frequentam. O fato é que se imagina ser este local, o reduto de uma elite econômica do Brasil. É como se de forma inconsciente existisse uma placa na porta dos shoppings dizendo: pobre não entra. Respaldando este discurso inconsciente, o presidente da Associação Brasileira de Lojista de Shoppings afirma que tais manifestações provocam redução no movimento das vendas. Mesmo que seus componentes sejam bem vindos para consumir sorvetes ou pizzas, desde que bem vestidos e limpos, não podem adentrar os limites das fronteiras dos shoppings centers e impor a classe média sua música funk. Fico a refletir: Cuba é aqui?

Mas e a Revolução Francesa, onde ela entra nesta história? Vejamos. A Revolução mais longa e mais sangrenta da história da humanidade, começou com um evento aparentemente isolado. O que marca o fim do Antigo Regime e início da Revolução é a Queda da Bastilha, que nada mais era do que uma prisão o que nos reporta a Pedrinhas e ao Carandiru.

Não pretendo ser a profetisa de um mundo em crise. Mas o que a imprensa sinaliza é no mínimo um alerta. Os vários fatores levaram ao colapso que marcou o desencadeamento da Revolução Francesa: um gigantesco abismo econômico entre ricos e pobre, fortíssimos esquemas de corrupção e por último o colapso do sistema prisional. Não estou lendo as páginas de uma revista de grande circulação nacional, estou fazendo um rolé ao passado histórico da humanidade.

Os franceses foram as ruas gritando “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” no século XVIII e os brasileiros do século XXI fizeram o mesmo, gritando “queremos escolas e hospitais padrão FIFA.”.

Mas o que grita o jovem do rolezinho? Até agora nada. Poderia gritar contra a violência, a injustiça social, poderia neutralizar a ação de vândalos e baderneiros que se misturam a massa pacífica que só tem interesse em promover confusão. E nós professores como podemos aproveitar a onda e fazermos de tal momento um instante de construção pedagógica.