Artigo

Parabéns as Mulheres Invisíveis

Depois da enxurrada de comemorações para: as mulheres de Atenas, as Amélias, as mulheres centopeias, as mulheres caranguejos, as mulheres por serem, simplesmente, seres do sexo feminino.

Aplaudo de pé as MULHERES INVISÍVEIS.

Aquelas mulheres que morreram queimadas por melhores condições de trabalho;

As mulheres que foram espancadas, abortadas, execradas e mortas nas lutas pela democracia; As mulheres que são levadas de suas famílias, desde cedo, para serem escravas ou serem abusadas sexualmente; As mulheres que tem seu clitóris retirado porque não foi dado as mulheres o direito de sentir prazer;

As mulheres que são vendidas como se fossem um objeto comercial;

As mulheres que estão todos os dias nos hospitais e nos postos de saúde, desejando atendimento digno para se protegerem das enfermidades ou para curá-las. As mulheres que possuem duas mamas e não somente uma;

As mulheres que para garantir a educação de seus filhos precisam permanecer, horas, em filas sem ter a certeza que conseguirão a vaga na escola e se a escola vai funcionar por todo ano letivo;

As mulheres empregadas domésticas que por muitos anos foram tratadas como amas da casa grande porque o trabalho que exercem não era digno de direitos;

As mulheres catadoras de lixo que estão nos lixões suscetíveis a diversos danos sociais para garantir o alimento de seus filhos;

As mulheres marisqueiras que buscam nos mangues destroçados pela exploração imobiliária e pela poluição o sustento de suas famílias e lutam pela manutenção de sua atividade artesanal;

As mulheres negras sejam elas quilombolas, de terreiros e dos movimentos que lutam contra o estigma racial e religioso;

As mulheres rurais e indígenas que observam seus filhos caminharem, horas e horas, de pés descalços para escolas sem paredes, sem teto, sem nada;

As mulheres assalariadas que deixam seus filhos em creches, com cuidadoras e recebem salários menores que os seus homens;

As mulheres que precisam reduzir sua carga de trabalho e passam a receber salários mais baixos porque não tem direito a uma condição de trabalho diferenciada em virtude da maternidade;

As mulheres que sofrem todas as espécies de violência simbólica, moral e física e muitas não conseguem sobreviver aos maus- -tratos; A todas as mulheres invisíveis que, ainda, são tratadas como mercadorias de consumo ou como seres inferiores sem acesso a seus direitos;

As mulheres invisíveis que clamam por justiça, mas não são ouvidas e a sua voz é calada por uma sociedade machista e desumana;

Para essas mulheres o meu aplauso porque a luta dessas mulheres não se resume em um único dia, em um momento, no qual a celebração ressoa como um presente de consolação pela condição de ser mulher. Como se um bouquet de flores, um colar, a lembrança da maternidade responsável fosse a melhor forma de comemorar a existência do feminino.

Sinceramente, como mulher não me sinto lisonjeada com uma comemoração anual, simplesmente por ser do sexo feminino, simplesmente por ser lembrada como mulher capaz de desempenhar diversos papéis, sendo que muitos desses papéis são impostos por uma cultura sexista, na qual o rosa é da mulher e o azul é do homem…

Gostaria mesmo de vê essas MULHERES INVISÍVEIS serem lembradas como gente, como cidadãs, de um Estado livre e democrático que garante a todas acesso a direitos dignidade e respeito, independente, de suas condições ou escolhas.

Desejo muito que um dia os festejos pelo dia Internacional da Mulher não seja um ato simbólico, uma lembrança ao vento, que seja uma realidade concreta.

Mas, como, ainda, não é assim, que pelo menos no dia Internacional da Mulher deixemos de lado o jogo do mercado de consumo ou a reiteração de mensagens inúteis para nos unirmos na luta pela igualdade de gênero.