Artigo

“O pequeno príncipe”: Eterno e sublime!

Para Júlia.

O livro, “O pequeno príncipe” (1943), de Saint-Exupéry, é uma fábula sobre amizade, solidariedade e renúncia. Exu¬péry conta-nos uma história de paz, escri¬ta em tempos de guerra.

Naquele tempo um mundo agitado pela II Guerra Mundial. Hoje um mun¬do conturbado, por outras guerras e mais ainda pela vulgaridade com que tratamos a amizade, o amor e a solidariedade.

A obra de Exupéry é cheia de simbolo¬gias que nos fazem pensar, sonhar, amar e viver: acalenta-nos as asperezas do co¬tidiano e nos conduz à maior de todas as alegrias, o amor! Faz-nos rir e chorar… E quando rimos, choramos surpreendidos pela delicadeza do principezinho, e quan¬do choramos, sorrimos encantados com a simplicidade feliz daquele garoto que vive brincando dentro do nosso coração, em qualquer idade!

A história daquele príncipe começa quando um defeito num pequeno avião deixa o piloto preso no meio do deserto do Saara. Após a primeira noite, o piloto vê¬-se acordado por um menino que lhe pede: “desenha-me um carneiro”. Começa então o relato das fantasias e sonhos daquela criança que, como tantas outras, questio¬nam com pureza, ingenuidade e inteligên¬cia as coisas da vida.

Exupéry vai, ao longo da história, des¬fazendo o novelo sem pontas do mundo “adulto”, cheio de preconceitos e racionali¬dades, no qual vivemos, para afinal fazer surgir de dentro dele um moleque feliz e simples como o principezinho: nós mesmos!

“O pequeno príncipe” é uma obra para a gente se deliciar, como uma crian¬ça diante de um sorvete irresistivelmente gostoso, que nunca acaba! É para a gen¬te viajar, por todos os planetas por onde passou o principezinho e por muitos ou¬tros lugares e lembranças adormecidas no coração da gente, sem pressa de che¬gar! Porque nós somos as experiências de todos aqueles que nos cercam: somos a eternidade da vida quando compreen¬demos que estamos de passagem por ela, e que a nossa existência só faz sentido quando construímos caminhos melhores para os que virão depois de nós… E assim sucessivamente…

A viagem do pequeno príncipe aconte¬ce a partir do momento em que ele briga com a sua flor; considerando-a boba, exi¬gente, egoísta e voluntariosa. A flor tira do principezinho a tranquilidade de seu pe¬queno mundo. E ele então se lança numa jornada que termina trazendo-o ao planeta Terra, onde acaba vivendo outras aventu¬ras e adquirindo novas experiências. En¬tretanto, o principezinho, entendeu, com o coração, sempre feliz e ingênuo, que sua flor era única no mundo. Mas, descobriu também que havia outras flores, inclusive da mesma espécie, contudo, nenhuma de¬las era a sua flor; aquela que ele tinha que cuidar, proteger e amar.

Mais adiante o principezinho e a ra¬posa revelam aquela que talvez seja a passagem mais comentada de todo o livro: “somos responsáveis por aquilo que cati¬vamos”. Ou seja: somos responsáveis pelos nossos amores! No entanto, temos medo de amar! É como bem diz aquela canção de Beto Guedes: “O medo de amar é o medo de ser livre para o que der e vier; livre para sempre estar onde o justo estiver”. A partir de então chegamos àquele ponto (eterno e sublime) da leitura, no qual a raposa revela ao príncipe: “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”. Magnífico!

Ao deixar a Terra, o príncipe ofereceu de presente ao seu amigo aviador as estre¬las; pois ele estaria em cada uma delas. E a nós, leitores(as), ofereceu-nos uma difícil lição: o Amor verdadeiro dispensa os con-ceitos. Assim… “Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso basta para fazê¬-lo feliz quando a contempla”… “O peque¬no príncipe” nos devolve com sabedoria e simplicidade o mistério da infância, dos sonhos, do amor… E da Vida!