Artigo

O curral de Deus

Os maçons têm uma expressão interessante para designar Deus: Grande Arquiteto (ou Geômetra) do Universo, mas poucas pessoas param para refletir sobre tal simbolismo. Antigamente, as crenças humanas incipientes eram totêmicas e anímicas, na sua grande maioria. O Deus era o meu Deus, o Deus da minha tribo, quiçá da minha vila ou cidade.

Uma visão pueril, com marcado vínculo no orgulho e no egoísmo dos seres. Por exemplo, em uma guerra tribal, Deus tinha que abençoar o MEU povo e MINHA pajelança em detrimento dos de outrem.

Depois dessa época, o Criador ainda foi entendido como se fosse um velho barbudo e irado, uma imagem antropomórfica equivocada, tirada de más traduções e interpretações literais e levianas de o Velho Testamento. Mas foi em 1857 que uma interessante pergunta muda o sentido que se tinha até então de Deus. O lançamento naquele ano de O Livro dos Espíritos, elaborado por Allan Kardec, traz em sua pergunta primeira: “Que é Deus?”. E a resposta obtida da indagação aos espíritos foi: “Deus é inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.” (Pires, J. H., p. 64, 1986) Em seguida, o codificador elabora mais 15 (quinze) questões sobre o assunto, que merecem ser lidas e aprofundadas. Por ser “inteligência suprema” quer, resumidamente, dizer que não há nada antes dele, nem que lhe seja superior em onisciência; por ser a “causa primária de todas as coisas”, quer inferir que é o Criador de tudo e de todos, universal, cósmico. Daí a imagem que os maçons criaram de Arquiteto ou Geômetra, ou seja, O construtor, O lapidador, O que erige, faz, cria, labuta acima de tudo e de todos. Deus agora deixa de ser o Deus da minha família, da minha vila, do meu credo, do meu país… para ser o Deus das galáxias, das nebulosas, do cosmoinfinito! Esse mesmo Deus que é o MEU, é o SEU, é o NOSSO, como exemplifica na Oração Dominical o Meigo Rabi da Galileia, Seu filho maior que esteve conosco! Tais ideias deram ao ser humano uma possibilidade de reflexão jamais vista, embora existam infelizes irmãos presos às algemas do fanatismo e do sectarismo, que insistem em dizer que a sua religião é a única que salva, a única que presta, a única assistida! Só que Deus (Allah, Jeová, krishnaseja lá que nome der, isso é o que menos importa!), agora, é o mesmo Pai de um Hitler e de um Gandhi; dos terráqueos e dos jupterianos; dos que estão na Via Láctea e dos que existem nas outras bilhões de galáxias no universo conhecido!

Deus, a partir de então, tornou-se Eterno, Imutável, Imaterial, Único, Todo-Poderoso e Soberanamente Justo e Bom, como comenta Kardec na questão 13, do livro supracitado. Hoje, discordar disso é uma possibilidade do livre-arbítrio de cada um, porém totalmente na contramão dos estudos teológicos, além da própria intuição e dos sentimentos internos que todos têm quando se para pensar, meditar, sobre o Senhor das Estrelas.

Uma volta ao Deus tribal de ontem não é mais permitido, aliás, é até ignorância!