Artigo

Belas palavras

Não faz muito tempo participei de alguns dias de louvor e meditação na Palavra de Deus. Aliás, este artigo é oportuno, pois estamos no mês da Bíblia. O encontro foi conduzido por padre cantor, engajado na mídia, e sua equipe de músicos. Foi bom, sem dúvida, muito bom. O palestrante disse coisas lindas, maravilhosas… Palavras que tocaram profundamente o coração dos ouvintes, fazendo-os chorar de emoção. Eu mesma, confesso, chorei. Esses momentos nos aproximaram de Deus. Num dos dias arrisquei conhecer o palestrante pessoalmente. Fui lhe parabenizar e presentear com o meu mais novo livro:

Estações da Vida – Espiritualidade Feminina (Editora A Partilha). A idéia era incentivar o desenvolvimento de algum trabalho com as mulheres de sua paróquia. Ele me recebeu de forma bastante educada e gentil. Conversamos pouco, mas o suficiente para eu sentir algo estranho. Aquela pessoa com quem conversava não parecia ser a mesma que pregava. Faltava alguma coisa. Suas palavras não estavam mais sendo convincentes. Soavam vazias e distantes.

Não havia profundidade em seu olhar, e aparentou querer se esquivar. Cheguei realmente a pensar que, nos meus breves cinco minutos, acabei incomodando aquele homem de Deus. Não conversamos mais.

Fiquei dias refletindo sobre o que se passou. Como podia haver aquela diferença tão grande entre quem discursava no púlpito e quem falava cara a cara? Cheguei à conclusão que a Palavra de Deus precisa apenas de um canal para se expressar. Ela é viva e, como tal, é capaz de tocar os corações fiéis simplesmente ao ser pronunciada. Não importa muito qual é a boca que a profere, mas o propósito que a Palavra tem para aquela ocasião. A pessoa pode ser instruída ou inculta, pode ser pura ou maculada, pode ser orador experiente ou iniciante… A Palavra toca porque é operante. Ela chega aonde ninguém pode chegar. E é mais penetrante que a espada de dois gumes, atingindo até a divisão da alma e do espírito, de juntas e medulas, discernindo os pensamentos e as intenções do coração (Hb 4, 12).

A Palavra de Deus é eficaz. Proferida, Ela não volta vazia; antes faz o que apraz ao Senhor, e prospera naquilo para o qual Deus A enviou (Is 55, 11). Isso é maravilhoso, é lindo, é real. As pessoas choram diante da Palavra de Deus. Elas se comovem, pois a Palavra toca fundo. Ela penetra no insondável humano e desobstrui o caminho bloqueado pela mágoa, pela raiva contida, pela falta de perdão. O fluxo da vida volta a correr na via desobstruída pela Palavra. Ela não retorna a Deus sem ter realizado o seu trabalho de cura e libertação, independentemente de quem A profira.

Estamos num tempo em que a vaidade leva muitos a decorarem belos discursos inflamados. Querem falar, procurando a admiração e o apreço das pessoas. Buscam ler a Palavra a fim de Lhe extrair novidades emotivas ou transformá-La em arena de esgrima intelectual. Mas, tomemos cuidado. A Palavra tem o seu propósito, e cumprir a vontade do Pai, implica em atendê-lo.